Entre idas e vindas na busca por um novo técnico, o Botafogo bem que flertou com Ramon Menezes, ex-Vasco. Mas o “ramonismo” que deve ganhar General Severiano é outro, e vem com sotaque carregado. Veterano do futebol sul-americano, o argentino Ramon Díaz foi anunciado nesta quinta-feira pelo Alvinegro e deve estrear seu futebol de intensidade em gramados brasileiros.

Herdeiro de uma velha escola de imposição física do futebol argentino, o novo comandante não traz exatamente o estilo dos sonhos do botafoguense, que sofre com a falta de qualidade na produção no ataque da equipe. “El pelado” (o careca, apelido carinhoso dado pelos argentinos) Ramon costuma se descrever como um técnico ofensivo, mas suas equipes tendem a se destacar pela forte marcação pelo meio e uma saída de bola mais vertical, rápida e eficiente, assim que ganham a posse, normalmente já próximas à área adversária. Para isso, o treinador exige muito da parte física de seus elencos.

? Sigo sendo um técnico ofensivo. Considero muito importante a disciplina tática. É preciso jogar com muita agressividade, com intensidade. Já não se espera tanto (o adversário no próprio campo), eu não gosto de esperar. Para isso, é preciso se preparar ? avaliou o técnico em entrevista ao jornal argentino Clarín, em novembro do ano passado. Na época, o treinador voltava à Argentina depois de um período à frente de clubes da Arábia Saudita e do Egito. Por lá, foi campeão saudita em 2017.

De fato, o estilo de Díaz pouco remete ao do xará brasileiro. O melhor exemplo do “ramonismo” argentino talvez seja o da seleção do Paraguai, que comandou entre 2014 e 2016. Com duas linhas de 4 bem definidas e compactadas, mais a predileção por jogadores de área no ataque, a Albirroja foi a carrasca do Brasil na Copa América de 2014, mandando o time de Dunga para casa nas quartas de final, nos pênaltis (empate em 1 a 1 no tempo normal).

Apesar da goleada por 6 a 1 para a Argentina na fase seguinte, a equipe se notabilizou pela pressão numérica capaz de anular a construção adversária pelo meio e pela eficiência nas oportunidades que os contra-ataques proporcionavam. Na fase de grupos, deixou para trás o Uruguai e classificou-se junto à Argentina, empatando com ambas.

No Botafogo, a qualidade de Honda na saída de bola e a presença de área de Pedro Raul e Matheus Babi podem constituir algumas das principais armas do técnico. Homem de área mais móvel, Kalou deve ser peça-chave no esquema de Díaz, que costuma trabalhar com nomes experientes.

Além da alarmante falta de confiança ? e de sorte ?, o novo técnico terá bastante trabalho a fazer  na preparação. A intensidade de seu jogo deve ser o choque mais visível ao elenco Alvinegro. Jogadores de velocidade, como Kelvin, poderão ter de se adaptar a atuar mais recuados, nos extremos de uma linha de meiocampistas.

O técnico contará com o auxílio de Emiliano Díaz, seu filho, auxiliar e fiel escudeiro. É ele quem está por trás da parte tecnológica da preparação para as partidas, que incluem muito estudo dos adversários.

Ídolo do River Plate

Após a aventura no mundo árabe nos últimos anos, Díaz voltou para a América do Sul este ano para treinar o Libertad, do Paraguai. Por lá, teve início animador e bom aproveitamento, com 14 vitórias, quatro empates e seis derrotas em 24 jogos, mas uma sequência ruim de resultados e a ameaça de ficar de fora da Libertadores levaram a um pedido de demissão, em setembro.

? Depois da paralisação (por conta da pandemia), já não éramos o mesmo time ? avaliou o presidente do clube, Rubén Di Tore, a uma rádio paraguaia, à época.

Provocador, emotivo mas difícil de se tirar do sério, Ramon Díaz é ídolo no River Plate. Foi o treinador mais bem sucedido no clube antes da chegada do furacão Gallardo no Monumental, com nove títulos no currículo. Foi ele quem deu lugar ao atual técnico do clube, logo após a conquista do Torneo Final de 2014, o primeiro título nacional argentino do River desde a queda para a segunda divisão, em 2011.