O antoclímax é inegável. A expectativa por sair do Maracanã com a liderança isolada do Brasileirão foi substituída pela frustração do Flamengo diante da goleada por 4 a 1, de virada, para o São Paulo. Mais do que quatro gols, uma lista de erros individuais e dois pênaltis perdidos (por Bruno Henrique e Pedro), o rubro-negro leva algumas questões para refletir. Sobretudo defensivamente.

Uma análise mais superficial colocaria o prejuízo só na conta do zagueiro Gustavo Henrique, que cometeu os erros mais claros. Mas o problema do time vai além. E o jogo contra o São Paulo explicitou isso, vide a facilidade que o time de Fernando Diniz saiu da “marcação? do Fla no campo ofensivo.

? Erramos todos. Defensivamente e ofensivamente. Não vamos focar só nos defensivos. Acho que é uma derrota dolorosa para o time, pois poderíamos estar na liderança. Mas estamos na briga. Foi um jogo atípico ? avaliou o técnico do Fla, Domènec Torrent.

Ressalvada a diferença de partidas disputadas (nuance do calendário em ano de pandemia), nenhum dos sete primeiros colocados tem defesa pior que a do Flamengo. Agora, são 25 gols sofridos. Três dos quatro times atualmente na zona de rebaixamento levaram menos gols ? Athletico (20), Bragantino (24) e Coritiba (24). O Flamengo está lá em cima porque compensa com o melhor ataque.

Números da plataforma Wyscout mostram que, nos 18 jogos anteriores, o Flamengo permitiu uma média de 10,79 finalizações a cada 90 minutos no Brasileirão. Dez times mostravam mais eficácia. O próprio São Paulo, em contraste, era quem mais evitava chutes dos adversários: índice de 7,66.

Na Série A de 2019, o Flamengo permitiu, em média, 9,16 chutes a gol, sendo o segundo melhor no quesito. O mais seguro foi o Palmeiras, com 8,93 finalizações sofridas a cada 90 minutos. Logo, há queda no poder de bloqueio do Fla. O ditado popular se aplica, neste caso: “água mole em pedra dura…?

Não dá para atribuir o fenômeno só aos volantes. Neste domingo, inclusive, João Gomes foi titular, já que Willian Arão e Thiago Maia estavam suspensos. A proposta é que a pressão seja feita a partir do campo ofensivo. Quando esse “bote? dá errado, abre-se um latifúndio a ser explorado. E isso o São Paulo fez bem.

Dizer que está tudo errado, ao mesmo tempo, é ignorar o fato de o Flamengo ter passado oito rodadas sem perder na Série A. Mas o recorte recente serve de alerta: nos últimos quatro jogos, só uma vitória. E, por isso, o time segue com os mesmos 35 pontos do Internacional e não pulou na liderança.

Esse Flamengo mostrou outra dificuldade no primeiro turno: confrontos diretos. A goleada frente ao São Paulo se soma à derrota para o Atlético-MG ? adversário do próximo domingo ?, e o empate com o Inter. Do top-5 atual, o time só ganhou do Fluminense.

O 4 a 1 soou exagerado, mas o Flamengo não tem direito de reclamar da própria sorte. Quarta-feira, o desafio é pelas oitavas de final da Copa do Brasil, contra o Athletico. A vantagem de 1 a 0 na ida dá tranquilidade para corrigir os erros deste domingo.