Principal torneio de clubes do planeta, é natural que a Champions League tenha a abertura de sua fase de grupos celebrada como uma grande ocasião do calendário. Em especial quando se cruzam duas grifes de alcance global como Paris Saint-Germain e Manchester United, que duelam nesta terça-feira, às 16h (a TNT transmite), no Parque dos Príncipes.

Entrevista: ‘Não é só com meninos que você faz um bom ano’, diz Odair

A presença em campo de Neymar, Mbappé ou Pogba torna o jogo atraente. O que é diferente de colocar em risco o futuro do derrotado. Numa era de disparidades econômicas, a fase de grupos da Champions produz choques de peso, mas a decisão sobre os classificados em cada grupo é cada vez mais previsível. O ranking das maiores receitas do mundo tem sido um parâmetro bem confiável para prever, antes mesmo da primeira rodada, quem avança em cada chave.

Mansur: Lição da goleada do Flamengo é o respeito ao tempo

Na temporada passada PSG e Real Madrid duelaram na rodada inaugural e os 3 a 0 aplicados pelos franceses causaram turbulência na Espanha. Mas nada que impedisse os dois de avançarem num grupo com Brugge e Galatasaray. Já a escandalosa goleada de 7 a 2 do Bayern sobre o Tottenham constrangeu os ingleses, mas não os impediu de avançar junto com os alemães às custas de Olympiakos e Estrela Vermelha. Em nenhum grupo houve resultados esportivos que contrariassem seriamente o poderio econômico.

A real disputa na fase de grupos tem se restringido a chaves com apenas um gigante, deixando aberta a briga pelo segundo posto; ou a raras reuniões de três times fortes num grupo. Foi o caso de Barcelona, Borussia Dortmund e Inter de Milão na temporada passada. Os italianos, 14º no ranking de receitas da consultoria Deloitte relativo à temporada 2019/2020, perderam o segundo lugar para o Dortmund, 12º na lista. Ou seja, nenhuma anormalidade.

André Kfouri: Flamengo e Corinthian, a distância é maior que o 5 a 1

O mesmo acontecera em 2018/2019, quando choques como Juventus x Manchester United, Real Madrid x Roma, Bayern x Ajax ou PSG x Liverpool geraram jogos atraentes, mas não puseram em xeque a previsibilidade de um futebol cada vez mais partido entre a elite dos superclubes e os demais.

Fase de grupos da Champions League Foto: Editoria de Arte
Fase de grupos da Champions League Foto: Editoria de Arte

 

Fase de grupos da Champions League Foto: Editoria de Arte
Fase de grupos da Champions League Foto: Editoria de Arte

Os favoritos

Neste ano, talvez as incertezas se limitem a grupos como o do Manchester City, em que Porto, Olympique de Marselha e Olympiakos devem lutar pelo segundo lugar. Ou à disputa entre Atalanta e Ajax no grupo que, espera-se, o Liverpool deve liderar. Há pouca expectativa de que as incertezas envolvam um gigante.

Mas o fato é que este não é um ano como outro qualquer. E o futebol está sentindo isso. O encerramento tardio da última temporada por causa da pandemia reduziu a pré-temporada brutalmente e criou um calendário congestionado. As competições nacionais da Europa sentem os efeitos, com gigantes instáveis e líderes improváveis. A partir de hoje, saberemos se este tempero de imprevisibilidade chegará à fase degrupos da Liga dos Campeões, cada vez mais ditada pelo poder econômico.

Em meio a desfalques na largada do Francês, o PSG já perdeu duas vezes em sete rodadas e está dois pontos atrás do líder Lille. Nesta terça-feira, terá Neymar e Mbappé, mas ainda não terá Paredes e Verratti. Já o United lida com dificuldades que o afastam do topo há algumas temporadas. Na Premier League, liderada pelo surpreendente Everton, o time venceu dois jogos e perdeu outros dois, um deles por 6 a 1 para o Tottenham de José Mourinho. Ainda não será hoje que Cavani vai estrear.

 

Barcelona e Juventus, ambos no Grupo G, também estreiam nesta terça-feira: os catalães contra o húngaro Ferencvaros e os italianos contra o Dínamo de Kiev. Tudo indica que ficarão com as duas vagas do grupo. No entanto, o início de liga espanhola é outro exemplo de uma largada de temporada de pernas para o ar na Europa. Derrotados no último fim de semana por Getafe e Cádiz, respectivamente, Barcelona e Real Madrid vivem momentos de incerteza. A possível última temporada de Messi ocorre num time um tanto reformulado e que ainda tenta se encontrar. Já o Real Madrid, que estreia na quarta-feira contra o Shakhtar Donetsk, não consegue jogar bem com constância. A liga tem Real Sociedad e Villarreal na ponta, ainda que com um jogo a mais.

 

Na quarta-feira haverá outro duelo de grife: o campeão Bayern de Munique contra o Atlético de Madrid, mas ambos são favoritíssimos no Grupo A, com Salzburg e Lokomotiv. Ainda assim, a temporada atual parece desafiar certezas. Na Alemanha, o mesmo Bayern que estreou fazendo 8 a 0 no Schalke, dez dias depois levou 4 a 1 do Hoffenheim.