Após uma estreia com cara de treino? e bom treino ?, um jogo real. O Peru impôs ao Brasil uma partida com características opostas ao que a Bolívia ofereceu. A rigor, um duelo de fato. A seleção teve méritos ao se adaptar às circunstâncias, mostrou dificuldades típicas de um modelo que ainda precisa amadurecer, mas venceu por 4 a 2. Além dos três gols de Neymar, que ultrapassou Ronaldo e se tornou o segundo maior artilheiro da história da seleção, o jogo teve a marca da afirmação de Richarlison.

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O atacante do Everton se exibiu de duas formas. Primeiro, aberto pela direita, onde Tite busca um ponta. Não é sua especialidade, mas ainda assim abriu campo e deu opções de passe. Depois, como centroavante após a saída de Firmino. Este é, com sobra, o mais técnico jogador brasileiro da posição. Mas tem um estilo peculiar, é um “9,5?, algo entre um camisa 9 e um 10, gosta de recuar e dar passes para homens que infiltram. Exige um entrosamento difícil de atingir na seleção. Como centroavante fixo, ainda parece desconfortável.

O desafio se tornou duríssimo após o gol inicial do Peru, logo aos 5 minutos, feito por Carrillo. Se Tite quer colocar cinco homens entre as linhas de meio e defesa dos rivais, o Peru limitava muito este espaço. Defendia bem com suas linhas próximas, impedia Coutinho de respirar com a bola, Firmino de recuar para receber, e obrigava Neymar a buscar o jogo alguns metros atrás. O jogo curto dificilmente acontecia, não fluía.

Adaptação

Mas o Brasil, se não foi brilhante, soube se adaptar. Passou a buscar um jogo mais longo: como a defesa peruana se adiantava para jogar próxima de seu meio-campo, a seleção tentava explorar as costas dos defensores, principalmente com inversões de Douglas Luiz para Richarlison da esquerda para a direita. Foi numa jogada assim que Roberto Fimino perdeu gol incrível. Foi também pela direita que começou a jogada do pênalti convertido por Neymar e o lance do gol anulado por impedimento.

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A jogada brasileira, quase sempre, iniciava pela esquerda para chegar à direita. E, neste aspecto, como um iniciador de jogadas pelo setor canhoto, Douglas Luiz combinava bem com Renan Lodi antes de fazer a inversão do lado. Ou permitia a ultrapassagem do lateral, que quase deu o gol a Roberto Firmino em bom cruzamento.

Não era um Brasil exuberante, mas o time criara o suficiente até para estar à frente. Mas também não havia a sensação de total segurança diante do contragolpe peruano. Quando o rival tentou adiantar a marcação no início do segundo tempo, o time sentiu o jogo. Por alguns momentos, Aquino, Tapia e Yotún dominaram o meio. Douglas marcava mais à esquerda, para que Neymar não voltasse tanto. E a compensação pelo meio era feita por Coutinho. No duelo físico, o Brasil tinha problemas. E em outro rebote da defesa e infelicidade de Rodrigo Caio, o Peru fez 2 a 1.

Estrela de Tite

Aí brilhou a estrela de Tite. Antes mesmo de suas mudanças, o Brasil empatou num escanteio finalizado por Richarlison, que viraria um centroavante após as entradas de Éverton Cebolinha e Everton Ribeiro nos lugares de Firmino e Coutinho.

O jogo ganhou outra cara, uma partida mais aberta. E o Brasil já podia atacar os espaços em velocidade. Num contragolpe que foi, quase todo ele, obra de Richarlison, o árbitro deu pênalti duvidoso em Neymar, que cobrou e virou o jogo. Após a expulsão de Zambrano e com o Peru já sem forças, Everton Ribeiro quase marcou, mas o rebote de seu chute na trave se ofereceu a Neymar.