Há jogos que retratam o momento de um time, de um clube. Assim foi a dramática vitória do Botafogo, que neste Brasileiro parece predestinado a surpreender. Já produziu bem em jogos que não venceu, já jogou mal em partidas nas quais pontuou, e conquistou suas duas únicas vitórias sobre o líder Atlético-MG e, ontem, sobre o último invicto. Nos 2 a 1 sobre o Palmeiras, mostrou à torcida por que pode viver dias melhores, mas também por que é tão difícil conseguir uma arrancada diante das carências de um elenco que, aliás, retrata a dificuldade econômica do clube.

Este Botafogo vive uma transição. E Bruno Lazaroni tenta perseguir novas soluções, algumas delas com bons sinais. Por exemplo, ao abrir mão da linha de cinco defensores. Rafael Forster tem dificuldade como volante, mas ao formar um trio com Honda e Caio Alexandre, o time ocupa mais o meio, joga mais tempo no campo rival. O Botafogo marcou a saída de bola do Palmeiras e foi claramente melhor por 25 minutos ontem.

30 Minutos de Botafogo:Bruno Lazaroni, quem é, como arma o time e vai dar certo? Com Daniel Braune

Teve duas chances, uma delas em cruzamento de Rhuan após desarme de Caio Alexandre no campo ofensivo. Mas ainda há ajustes a fazer. A ideia de ter Babi partindo da ponta direita para Kevin ultrapassar pelo lado pode funcionar melhor. E ao pressionar no ataque, é preciso que a linha de defesa se adiante mais. Por vezes, o time dá espaços. O Palmeiras passou a tentar bolas longas para saltar a pressão alvinegra e chegou a incomodar.

Mas foi a jogada pela direita que deu ao Botafogo o primeiro gol, em passe de Kevin para Pedro Raul no primeiro minuto do segundo tempo. A este gol se seguiu o de Caio Alexandre, em novo rebote de falta idêntico ao do clássico com o Fluminense. Mas viria o lado B do jogo.

Caio Alexandre comemora seu gol, o segundo do Botafogo sobre o Palmeiras Foto: Luiza Moraes / Agência O Globo
Caio Alexandre comemora seu gol, o segundo do Botafogo sobre o Palmeiras Foto: Luiza Moraes / Agência O Globo

 

Mansur:As lições que o duelo Bielsa x Guardiola deixa ao futebol brasileiro

Este é um campeonato marcado pela maratona de jogos, por uma disputa tão física quanto tática e técnica. O Palmeiras tirou do banco Scarpa, Lucas Lima, Ramires, Zé Rafael e Gabriel Verón. É uma dose alta de qualidade técnica para um time que faz jogos tão insossos. Já Bruno Lazaroni tentou dar fôlego com Guilherme na vaga de Rhuan. Logo ele passaria ao meio com a entrada de Kalou na vaga de Forster e de Renteria na de Honda. No fim, para conter um Palmeiras que pressionava demais pela esquerda, colocaria o jovem Warley. Não há fartura de peças com peso para Lazaroni manejar.

Aos poucos, além de envolvido por um meio-campo mais povoado do Palmeiras, o Botafogo perdeu a saída de velocidade: nem Kalou, tampouco Babi a permitiam. O jogo virou um ataque contra defesa já visto no Nilton Santos em outras rodadas. Scarpa iniciou o lance do gol de Willian e, pouco depois, Cavalieri foi obrigado a fazer pênalti, mas evitou o empate com linda defesa. O jogo foi convertido em exercício de resistência, mas a bravura alvinegra foi premiada. O Brasileirão é uma batalha dura para time e clube. E cada vitória deve ser celebrada.