O Comitê Olímpico do Brasil (COB) decide nesta quarta-feira quem será seu presidente pelos próximos quatro anos ? e duas Olimpíadas, a de Tóquio-2021 e a de Paris-2024. Desde 1979, este pleito não contava com mais de uma chapa, ou seja, com a oposição. Além disso, esta eleição não terá Carlos Arthur Nuzman como candidato, o que não acontecia desde 1994.

Também pela primeira vez na história da entidade, os atletas devem definir o vencedor. É que agora, eles têm direito a 12 votos e não 1. Fazem parte desse grupo Tiago Camilo, Yane Marques, Arthur Zanetti, Bruno Mendonça, Emerson Duarte, Fabiana Mürer, Fabiano Peçanha, Poliana Okimoto, Thiago Pereira, Hugo Hoyama, Marcelo Machado e Iziane Marques.

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Segundo atletas ouvidos pela reportagem, a Comissão votará em bloco, e o candidato será escolhido em reunião na manhã desta quarta-feira, momentos antes da votação, já no hotel onde ocorrerá o evento. Eles ainda fariam um encontro online nesta terça-feira para debater o assunto. A ideia é definir em cima da hora para não vazar o apoio e impedir manobras.

? Nossa proteção é o silêncio ? disse um dos integrantes, que admite que o processo permanece dividido e polarizado entre dois candidatos. ? Mas sim, vamos votar em bloco porque assim temos peso de decisão.

A eleição será em um hotel na Barra da Tijuca, a partir das 10h. Além de presidente e vice, também serão escolhidos sete integrantes do Conselho de Administração e outro para o Conselho de Ética.

Chapas

Três chapas foram inscritas: a de Paulo Wanderley (com Marco La Porta como vice), a de Hélio Cardoso, presidente da Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno (cujo vice é o ex-velocista Robson Caetano), e de Rafael Westrupp, presidente da Confederação Brasileira de Tênis (cujo vice é o ex-jogador de vôlei de praia Emanuel Rego).

Nuzman, o último presidente eleito tinha Paulo Wanderley como vice. Este assumiu a cadeira de mandatário do esporte olímpico após prisão e renúncia de Nuzman, suspeito de comprar votos no Comitê Olímpico Internacional (COI) para que o Rio de Janeiro fosse escolhido sede dos Jogos de 2016.

O eleito irá gerir um orçamento milionário que em quase a sua totalidade é público, proveniente da loteria federal. Em 2020, o orçamento aprovado do COB foi de R$ 332 milhões, sendo que 84% veio do governo.

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O pleito poderá ter até dois turnos e o vencedor precisa chegar à maioria dos 49 votos. As votações são feitas por rodadas. Caso um candidato tenha a maioria simples dos votos, ele é eleito. Caso contrário, o menos votado é descartado e uma nova votação é feita no mesmo dia ? e isso é o que deve acontecer.

Participam da votação os 35 presidentes de confederações olímpicas, os 12 atletas que compõe a Comissão de Atletas, além dos dois membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) no Brasil, Andrew Parsons e Bernard Rajzman.

Apoios e desavenças

Na eleição do COB, para protocolar a candidatura, é preciso que ao menos três votantes as corroborem ? antigamente, na era de Nuzman, esse número era de dez confederações, o que dificultava que houvesse candidatos de oposição. Foi justamente em mudança estatutária com Paulo Wanderley que esta condição foi revista.

Por conta dessa obrigatoriedade do Estatuto, alguns votos já estão definidos. Westrupp e Hélio apresentaram os três apoios obrigatórios, apesar já terem outros.

A CBF, por exemplo, não ratificou nenhuma candidatura, mas já se pronunciou se comprometendo a votar em Westrupp, o mesmo fez a confederação de Vôlei. A CBF, conforme revelou o colunista Lauro Jardim, organizou um encontro em sua sede, nesta terça-feira, entre eleitores para fazer lobby em favor de Westrupp.

Já Paulo Wanderley protocolou o intimidador apoio de 17 confederações, mas assegura ter apoio de ao menos 20.  Nesta terça-feira, duas pularam fora do barco (wrestling e golfe).

Com o favoritismo, durante o último mês, enquanto os demais candidatos intensificaram suas campanhas, Paulo Wanderley preferiu submergir. Ele tirou licença temporária da presidência do COB (o que não é preciso fazer) e se recusou até a participar de debates.

Pelas estimativas, Hélio Meirelles deve ser o candidato com menos apoio e Westrupp e Paulo Wanderley devem se enfrentar no segundo turno, contudo, ele segue confiante:

? Nossa chapa tem muita cautela em relação ao anúncio de apoios para não expor indevidamente Presidentes e Atletas ? disse Hélio.

Apesar dos votos declarados, não quer dizer que eles serão sacramentados. O voto é secreto.

O fator determinante na eleição deve ser os atletas. E é deles que Hélio e Westrupp tentaram se aproximar, tanto que escolheram ex-atletas e não cartolas como vice.

Todos os candidatos têm problemas a contornar com os atletas. Hélio Meirelles tem péssimo relacionamento com Yane Marques, que é vice-presidente da CACOB.

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Contra Paulo Wanderley pesam dois quesitos: a tentativa de alterar o estatuto do COB no final do ano passado de forma repentina, o que lhe daria mais poder, e uma investigação da contratação fraudulenta de uma empresa de tecnologia ? ainda assim, foi em sua administração que os atletas ganharam representatividade nas eleições do COB e subiram para 12 os votos a que têm direito.

Já Westrupp tem a antipatia de alguns por ter ligação com o ex-ministro do Esporte Leandro Cruz. Cruz, que atualmente é secretário no governo do Distrito Federal, tem articulado patrocínios do Banco de Brasília a diversas modalidades esportivas. Sobre o assunto, Westrupp se defende:

? Lamentavelmente são factoides que criam. Uma teria da conspiração.

Contudo, o seu maior problema com os atletas foi criado pelo seu candidato a vice. Emanuel é presidente da comissão de atletas do vôlei de praia e soltou uma nota criticando a postura da jogadora Carol Solberg quando ela gritou “fora, Bolsonaro? após uma competição.

No texto, Emanuel, que era secretário de alto rendimento do governo federal e foi demitido pelo Diário Oficial, afirmou que a comissão lutará “ao máximo para que esse tipo de situação não aconteça novamente?. No debate promovido pela ONG Sou do Esporte, na semana passada, Westrupp alegou ser a favor da liberdade de expressão dos atletas.

As eleições também contavam com mais um candidato, Alberto Murray, mas ele precisou retirar a sua candidatura após o seu vice, Mauro Silva, presidente da Confederação de Boxe, desistir de concorrer um dia após o fim das inscrições das chapas. Ele alegou motivos pessoais. Murray, que era presidente do Conselho de Ética do COB e deixou o cargo em janeiro após desentendimento com Paulo Wanderley, foi o primeiro a se lançar candidato e antecipou a campanha.