Mesmo sem ter valores específicos, a diretoria do Flamengo tem uma base de cálculo para as indenizações das famílias dos dez jogadores mortos no incêndio do alojamento no Ninho do Urubu, na última sexta-feira, em Vargem Grande.
A conta é extremamente subjetiva, ainda mais por se tratar de jovens em formação, com um futuro difícil de prever. Porém, o clube tem mecanismos para identificar uma média de quanto cada atleta receberia ao longo da carreira.
Acostumado a revelar ano a ano jogadores para o mercado do futebol, o rubro-negro, hoje, tem exemplos factíveis de jovens promissores que chegaram ao profissional e estouraram. O mais notável é Vinícius Junior, que, aos 18 anos, está no Real Madrid, e, de acordo com a imprensa internacional, ganha mais de R$ 2 milhões por mês.
Outro caso de sucesso vindo da base é Lucas Paquetá, hoje no Milan. No clube italiano, ele vai receber na temporada quase R$ 8 milhões (algo em torno de R$ 600 mil por mês).
Esses dois jogadores, porém, estão num patamar muito acima da média. No primeiro contrato profissional, por exemplo, passaram a receber o teto destinado aos jovens da base, de R$ 50 mil. Boa parte não passa dos R$ 10 mil em vencimentos, e os aumentos ao longo dos anos levam em consideração a progressão dentro de campo e convocações e jogos pela seleção.
Muitos, no entanto, chegam à idade limite para o profissional, não são aproveitados no time principal e acabam emprestados ou vendidos para clubes de menor expressão.
? É um assunto muito delicado e tem que ser tratado com muita sensibilidade. Pela idade dos meninos, a imprevisibilidade do futuro é grande. Não dá para saber se seria um novo Neymar ou um jogador comum ? explica Luiz Fernando Leven Siano, especialista em direito internacional.
Por isso, a conta não deve ser igual para todas as famílias. De acordo com o especialista, o clube deverá avaliar cada caso por parâmetros específicos, como tempo de casa no rubro-negro e presença em seleções das categorias de base.
? Se os critérios forem justos, as famílias se sentirão acolhidas. Mas, se eu estivesse no Flamengo, jogaria os valores para cima para evitar ações na Justiça. Dificilmente o clube escaparia de uma indenização milionária numa ação judicial. Ainda que o incêndio tivesse uma causa fortuita, como um raio, o Flamengo é responsável pelos meninos ? explicou.
Num cálculo rápido, Leven Siano faz uma soma média de cerca de R$ 10 milhões por família, considerando um salário médio de R$ 50 mil ao longo da carreira. Ele lembra que o peso de ser um jogador de base do Flamengo é muito diferente de um clube de segunda divisão, por exemplo.
Para fazer as reparações financeiras, o departamento de futebol do Flamengo já iniciou os contatos com as famílias dos dez atletas a fim de costurar acordos extrajudiciais.
Fonte: O Globo