Botafogo e Fluminense, que se reencontram neste domingo, às 11h, no Nilton Santos, traçaram ? guardadas as proporções ? trajetórias semelhantes ao longo da última década. Nos primeiros anos, investiram em elencos com jogadores de peso. À medida em que a crise financeira se impôs, precisaram recorrer às divisões de base para compensar a falta de dinheiro para contratações. Atualmente, as pratas da casa são essenciais tanto para a montagem dos times quanto para o pagamento das contas.
No clássico deste domingo, por exemplo, o Botafogo deve contar com quatro revelações entre os titulares: a dupla de zagueiros Marcelo Benevenuto (recuperado de lesão na coxa esquerda) e Kanu, o volante Caio Alexandre e o atacante Rhuan. No Fluminense, o lateral-direito Igor Julião deve ser o único representante de Xerém na formação que iniciará a partida. Mas isso por uma casualidade.
É que Digão, titular da zaga tricolor, está contundido. Embora não atravesse bom momento, o atacante Marcos Paulo foi titular em boa parte do ano e, neste domingo, poderia ser o substituto do também lesionado Wellington Silva (outra cria do clube) caso não tivesse contraído Covid-19. Isso sem contar as opções que estarão no banco.
Ainda que tenha sido um movimento impulsionado pela crise financeira, os clubes aprenderam que suas revelações são um ativo valioso tanto dentro quanto fora de campo. Uma lição que os tricolores tomaram bem antes dos alvinegros.
Com o fim do patrocínio da Unimed, no fim de 2014, Xerém se consolidou como a segunda maior fonte de renda do Fluminense. As negociações da última década envolveram cerca de R$ 289 milhões, valor relativo aos direitos econômicos que o clube detinha de suas joias. Sem contar o mecanismo de solidariedade ? quantia recebida a cada transação internacional envolvendo uma de suas crias.
As transferências mais recentes envolveram o goleiro Marcelo Pitaluga (foi para o Liverpool, da Inglaterra) e o atacante Evanilson (Porto, de Portugal). A saída deste último, titular em 2020, ainda é sentida pelo time, que carece de centroavante.
Nem sempre o Botafogo saiu-se bem na tentativa de transformar suas joias em receita. Muitos jovens que chegaram ao time profissional com status de joia saíram sem se converter em lucro. Foram os casos, por exemplo, do atacante Luís Henrique, que não renovou com o clube e acertou com o Athletico, em 2017; e do meia Gegê, dispensado no mesmo ano. Mas os alvinegros têm descoberto a importância das divisões de base como fonte de receita.
Em 2018, o Botafogo registrou R$ 17,3 milhões com direitos econômicos de atletas. Quase todo este valor veio da negociação do volante Matheus Fernandes com o Palmeiras (R$ 15,5 milhões). Em 2019, a receita com transferências foi ainda maior: R$ 44,5 milhões. Entre as pratas da casa, a principal venda foi a do zagueiro Igor Rabello para o Atlético-MG por R$ 13 milhões.
Maior venda da história
No último dia 25, o Olympique de Marselha (FRA) anunciou a contratação do atacante Luis Henrique. O Botafogo informou que receberá 3,9 milhões de euros (R$ 25,8 milhões) pela transação, o que a torna a maior da história do clube. Assim como ocorreu com a saída de Evanilson no Fluminense, os alvinegros também ainda tentam se readaptar sem aquele que era o líder em assistências da equipe.
? Esse jogador gerou uma renda fabulosa que está nos permitindo chegar ao final do ano ? celebrou Carlos Augusto Montenegro, membro do Comitê Executivo de Futebol, à Botafogo TV.
Enquanto os dirigentes planejam que contas pagar com cada centavo faturado, jovens tentam realizar seus sonhos em meio aos altos e baixos da carreira. Nem todos seguem o caminho de Luis Henrique, apresentado com pompa no clube francês, ou de Ibañez (ex-Flu), valorizado na zaga da Roma. Dispensado do Botafogo, Cidinho chegou a ficar afastado do futebol e, atualmente, joga na terceira divisão francesa. Já o ex-tricolor Wellington Nem está sem clube após sete anos de Shakhtar Donetsk (UCR). Hoje, a roda da fortuna volta a girar no Nilton Santos.
Fonte: O Globo