A eliminação do Fluminense na Copa do Brasil foi seguida do comportamento já esperado da torcida de pedir a cabeça do técnico Odair Hellmann nas redes sociais. Foi o segundo adeus precoce num torneio de mata-mata (cujo formato permite ao clube sonhar em chegar mais longe) em 2020, o que torna a irritação com o técnico compreensível. Nesta sexta, quando o time retorna ao Rio, a pressão sobre ele será ainda maior. Cabe, no entanto, analisar o que é de fato sua responsabilidade pela temporada de altos e baixos dos tricolores.

Há, sim, problemas táticos no Fluminense. Principalmente na construção. O time de Odair Hellmann não é adepto das ligações diretas e nem das bolas alçadas na área a qualquer preço. Trata-se de uma equipe que tenta ir, de passe em passe, da defesa até o ataque. Na teoria, é bem intencionado. Mas, na prática, esbarra em suas limitações.

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Odair chega aos últimos dias de setembro sem ter encontrado um caminho para a bola sair dos primeiros homens de meio de campo para os mais ofensivos. Hudson, Dodi, Yuri…Seja quem for o escalado, todos parecem estar sempre diante de uma muralha quase intransponível. Acabam gastando muito tempo trocando passes com os zagueiros e os laterais e não conseguem dar passes verticais. Durante um tempo, Dodi e Michel Araújo ajudaram a fazer esta ligação. Mas os dois caíram de rendimento.

Diante dessa dificuldade, a produção ofensiva do Fluminense acabou ficando refém de Nenê e de Evanilson (quando este estava no time). O primeiro, por ter grande facilidade para concluir de média distância e ser um exímio cobrador de pênaltis. Já o segundo por ter se adaptado muito bem ao esquema de Odair e dado, ao mesmo tempo, velocidade e poder de finalização para a equipe. Com a saída do centroavante, só restou o meia para balançar as redes.

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A derrota para o Atlético-GO escancarou essa dificuldade. Enquanto os goianos finalizaram 13 vezes (sendo sete na direção do gol), os tricolores só conseguiram cinco (e apenas uma certa).

Já a derrota para o Sport, no domingo, pelo Brasileiro, ilustra outra dificuldade do time. O Fluminense teve 74% de posse de bola, finalizou 13 vezes (sendo quatro na direção do gol), mas não marcou. Isso porque, desde a saída de Evanilson, a equipe ficou carente de uma referência na frente. Aqui, no entanto, não se pode dizer que é culpa de Odair. O treinador vem trabalhando com o que tem em mãos: um Fred sem ritmo e que ainda contraiu Covid-19, um Felippe Cardoso que deixa a desejar todas as vezes que entra em campo e só. Sem outros nomes para a posição, alguns jogadores foram improvisados como falso 9. Mas não renderam.

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Defensivamente, Odair conseguiu dar mais solidez ao time no período pós-paralisação ao retirar um atacante da equipe para a entrada de mais um meio-campista. Mas erros individuais têm comprometido o desempenho da equipe. Nos últimos jogos, Muriel e Egídio tem sido os que mais deram essa contribuição negativa. Contra o Atlético-GO, primeiro falhou nos dois primeiros gols do time ao dar rebote para a frente. Já o segundo não acompanhou Matheus Vargas no terceiro gol.

Não é a primeira vez que Muriel compromete o desempenho do time com rebotes nos pés do adversário. O goleiro fez o mesmo no último Fla-Flu (vencido por 2 a 1 pelos rubro-negros). Contra o Sport, foi Egídio quem erro de forma grave ao cometer um pênalti tolo.

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O pior é que estes erros não são um privilégio da dupla. O zagueiro Nino também falhou por jogos seguidos antes de perder a vaga para Digão (recuperada após lesão deste). Calegari, que tem se saído muito bem ofensivamente, falha com frequência na marcação.

O caso do lateral-direito expõe um problema de planejamento da diretoria. Com a ida de Gilberto para o Benfica (POR), Odair só passou a contar com Igor Julião na posição. O jogador ganhou oportunidades, mas deixou muito a desejar. Sem outra opção, o improviso de Calegari se mostrou a melhor solução.

Na esquerda não foi muito diferente. Em que pese os erros corriqueiros, Egídio passou a maior parte da temporada sem um reserva, que só veio a ser contratado há menos de um mês.

Agora, apenas com o Campeonato Brasileiro pela frente, o Fluminense terá menos jogos e um pouco mais de tempo para treinar. A tendência é que o cobertor curto do elenco fique menos exposto. Mas o preço já foi pago.