No último dia 3, o coletivo Resistência Alvinegra, ligado ao Atlético-MG, pendurou três bandeiras no Mineirão para registrar apoio ao time, que enfrentaria o São Paulo. O gesto se tornou comum no país. Mas foi a foto da ex-vereadora Marielle Franco sobre o termo “Antifa?, estampada no pavilhão dos atleticanos, que viralizou nas redes sociais. A repercussão chamou a atenção do clube, que proibiu os adereços nos jogos seguintes. Foram as torcidas antifascistas que se destacaram, em maio, ao assumir a linha de frente das manifestações pela democracia. Desde então, a volta do público aos jogos ainda não foi autorizada. Mas o episódio sinaliza o que esperar quando isso ocorrer.
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Nos últimos meses, esporte e manifestações políticas estreitaram laços. O protagonismo das torcidas antifascistas é um exemplo. Mas não o único. A mobilização contra o racismo ganhou força nas principais modalidades. Da Fórmula 1 à NBA, passando pelo futebol, esportistas e clubes têm levantado a bandeira do combate ao preconceito. Fora dos eventos, o público ainda não teve a oportunidade de mostrar seu engajamento.
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No futebol, manifestações político-religiosas não são permitidas pela Fifa. O veto está registrado no artigo 1º do capítulo 1 das Disposições Preliminares do Regulamento Geral de Competições da CBF. Sem menção à política partidária, o texto dá margem a interpretações genéricas. E é com base nele que o Atlético-MG proibiu a Resistência Alvinegra de mencionar tanto a ex-vereadora assassinada quanto o termo “Antifa?, que denomina movimentos de oposição ao neofascismo.
? Lutar contra o fascismo não é somente um ato político. É, sim, um ato humanitário. Nossa luta é contra fascismo, racismo, xenofobia, homofobia e contra todas as formas de opressão dentro e fora dos estádios ? afirma Rógeris Alberto, membro do coletivo atleticano, que nasceu no ano passado após o episódio de racismo cometido por um torcedor contra um segurança do Mineirão:
? Decidimos nos organizar e criar uma torcida para enfrentar esses problemas cotidianos. Ainda há muita luta a se fazer, sabemos que é difícil demais esse debate dentro e fora dos estádios. Mas nossa torcida vai continuar representando os direitos do povo.
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Por manifestações políticas, os clubes podem ser punidos com advertência, multa ou até proibição de registro de atletas. Cabe ao STJD avaliar e julgar casos como este. Na visão do procurador-geral Ronaldo Piacente, o Atlético-MG agiu de forma correta.
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Atualmente, o procurador tem em mãos um caso desta mesma esfera. Em jogo pelo Brasileiro entre Coritiba e Flamengo, no Couto Pereira, uma faixa com os dizeres “Coritiba Uber Alles” gerou polêmica. O trecho em alemão significa “acima de tudo”. É o mesmo do antigo hino do país e usado como slogan durante o regime nazista.
Piacente ainda não deu seu parecer sobre o episódio. Mas já ouviu a Curva 1909, responsável pela faixa. Seus membros negam alusão ao nazismo e alegam que a inspiração para a faixa é a música “California Uber Alles”, da banda de punk rock Dead Keneddys, dos anos 1980. Contudo, após a repercussão em torno da faixa, a torcida anunciou o afastamento de seu presidente e o banimento do adereço dos estádios.
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Já em relação às manifestações antirracistas, ainda que também políticas, não há dúvidas. Para o procurador, elas devem ser liberadas nas arquibancadas.
? Quando você diz “Não ao racismo?, “Não à homofobia?, está falando de coisas práticas. A não ser que a bandeira venha acompanhada de uma sigla de partido. Então, em princípio não vejo por que ser proibido ? opina o promotor.
Fonte: O Globo