O jogo não acabou e a vitória do Olympique de Marselha por 1 a 0 contra o PSG, em Paris, ainda terá novos capítulos. Foram cinco expulsões e a acusação de racismo de Neymar em relação ao zagueiro espanhol Álvaro Gonzáles. O brasileiro espera que o rival seja punido após tê-lo chamado de macaco. Ele foi às redes sociais para denunciar o atleta, que não negou o episódio e ainda provocou Neymar ao dizer que era precisa saber perder. Em seu tuíte, com uma foto dele ao lado de jogadores negros, ele escreve: “Não há lugar para racismo. Carreira limpa e com muitos colegas e amigos no dia a dia. Às vezes você tem que aprender a perder e assumir isso em campo. Incríveis 3 pontos hoje?

Essa é a primeira vez que Neymar reage a um caso de racismo sofrido por ele. Uma mudança e tanto para quem já falou que não se considerava negro.

Quando atuava pelo Santos, clube que o revelou, o craque, então com18 anos, deu uma entrevista à colunista Sonia Racy, do Estadão, e ela perguntou se ele já tinha sido vítima de racismo. A resposta do menino, que na época era bem novo, foi surpreendente: “Nunca. Nem dentro e nem fora de campo. Até porque eu não sou preto, né??.

Essa mudança de posição do astro do futebol mostra seu amadurecimento. Aliado a isso está o momento atual: manifestações contra o racismo ganham o mundo e atletas tem mostrado força como os jogadores da NBA e o piloto Lewis Hamilton.

Outra indicação de que ele tem mudado de comportamento é que tem mesclado as postagens padrões, com textos revisados e estilo propaganda nas redes sociais, com mensagens autênticas, traduzindo quem de fato ele é, o que pensa e sente.

Recentemente, Felipe Neto chegou a cobrar Neymar por um posicionamento sobre a luta anti-racista. Na ocasião, ele criticou o jogador por manter silêncio diante dos protestos motivados pela morte de George Floyd pela polícia norte-americana. Ele retirou o tuíte do ar e explicou: “Apaguei o tweet sobre o silêncio do Neymar após mensagens de integrantes do movimento negro, mostrando que um branco não deve cobrar de um negro sobre pautas racistas. De fato, não é meu papel cobrar o Neymar sobre isso. Vou seguir tentando ajudar, aprendendo e corrigindo quando errar”, escreveu.

Esse caso em Paris não é o primeiro na carreira de Neymar, hoje com 28 anos. Ele já sofreu insultas raciais outras vezes mas não reagiu de forma contundente.

Em 2011, a seleção brasileira enfrentou a Escócia em amistoso em Londres e Neymar jogou muito bem, fez dois gols. Mas o jogo ficou marcado por um ato externo: uma banana foi jogada no campo logo após Neymar entrar com a bola dominada e ser desarmado pela zaga escocesa. Após o lance, o volante Lucas retirou a fruta do local. Para o SporTV Neymar falou: “Esse clima de racismo é totalmente triste. A gente sai do nosso país para jogar aqui…Prefiro nem comentar para não virar uma bola de neve”, declarou Neymar em entrevista à Sportv, ao ser perguntado sobre o assunto.

No Barcelona, seu destino após o Santos, ele ouviu insultos da torcida do Espanyol e nunca se manifestou com ênfase e repúdio. Também ouviu dos próprios torcedores como em abril de 2014, após mais uma derrota do Barcelona. A torcida do time catalão foi até o centro de treinamento da equipe e insultou os jogadores, dizendo que eles só pensavam na Copa do Mundo e não se comprometiam com a equipe. Quando passou Neymar, os torcedores imitaram macacos. Neymar não falou sobre diretamente sobre o assunto dizendo apenas que muitas vezes a “caminhada era difícil”.

Naquele mesmo ano, em jogo do Barcelona contra o Villarreal, um torcedor atirou uma banana para Daniel Alves. O lateral-direito pegou a banana e comeu. Poucas horas depois, Neymar mandou um “Força Daniel? seguido pela hashtag #SomosTodosMacacos em seu perfil nas redes sociais. Na foto, o craque segurava uma banana ao lado do filho, que carregava uma pelúcia de banana. Nada além disso.

A revolta do brasileiro também está direcionada ao árbitro Jérôme Brisard, que nada fez após o camisa 10 relatar o xingamento no compromisso válido pelo Campeonato Francês. “Racismo, não”, repetia Neymar ao árbitro esperando ver punição ao adversário. Brisard é o árbitro que já teve outro problema com Neymar: o de um cartão amarelo sofrido por conta da tentativa de uma carretilha no marcador.