A suspensão e a retomada dos testes só após revisar recomendações de segurança vão dar ainda mais credibilidade ao resultado da vacina da Universidade de Oxford, segundo avaliam especialistas consultados pelo Estadão. De acordo com pesquisadores, o “para-e-volta” é comum durante o desenvolvimento de novos imunizantes e demonstra que o estudo segue metodologia segura e confiável.
Considerada uma das mais promissoras contra a covid-19, a vacina de Oxford é desenvolvida em parceria com o laboratório AstraZeneca e está na fase 3, quando milhares de doses são administradas em humanos. Os estudos globais, no entanto, acabaram suspensos nesta semana depois que um dos 18 mil participantes do teste teve mielite transversa, uma síndrome inflamatória que afeta a medula espinhal e costuma ser desencadeada por infecções virais.
Neste sábado, 12, Oxford anunciou, em comunicado oficial, a retomada dos testes no Reino Unido. Responsável por coordenar o estudo no Brasil, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aguarda aval da Anvisa e da Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep) para dar sequência à pesquisa.
Especialista, entretanto, veem o episódio com tranquilidade e afirmam que não há motivo para pessimismo. “Quando se faz esse tipo de estudo, essas coisas acontecem. Nós estamos vivendo um momento peculiar no mundo que é a ciência sendo feita em tempo real: parece até jogo de futebol, em que cada lance é observado”, diz o médico imunologista Jorge Kalil, professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor).
Para Kalil, a transparência com que o problema foi tratado reforça a seriedade da pesquisa. “De forma muito honesta e clara, a própria empresa identificou e notificou ao grupo responsável pelo acompanhamento, que interrompeu o estudo para avaliação”, afirma. “Isso demonstra como eles estão atentos a qualquer problema que surja.”
“A informação é que a paciente teve uma doença muito leve e logo se recuperou”, diz o imunologista, que declara estar “otimista” com os possíveis resultados mais para frente. “Fazer uma vacina não é de uma hora para outra: vai ter percalço no caminho, faz parte do processo. E este percalço já foi superado.”
Médico sanitarista e professor a Fundação Getúlio Vargas, Walter Cintra Ferreira concorda que o problema constatado com a voluntária é “normalíssimo”. “Foi a própria AstraZeneca que propôs a suspensão, o que demonstra a seriedade da empresa no processo de teste. A empresa é quem tem mais interesse que tudo dê certo para poder comercializar a vacina.”
Para Ferreira, o episódio também demonstra que o tempo da ciência deve ser respeitado para que os resultados sejam eficientes. “Não tem como encurtar os testes, não existe atalho. A gente torce para que tudo dê certo, mas não temos nenhuma possibilidade de fazer previsão absoluta de quando a vacina vai ficar pronta justamente por conta desses eventos.”
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Fonte: Terra Saúde