No último dia 30 de agosto, a La Liga soltou um comunicado ao saber da decisão de Messi de deixar o Barcelona. A responsável pelo Campeonato Espanhol, que começa a temporada hoje (mas o Barça estreia somente dia 27), não permitiria ao argentino sair de graça, como ele pretendia. Por trás do cumprimento ou não do contrato, havia algo mais. A preocupação de perder a principal e última grande estrela da competição, que, atualmente, está atrás apenas da Premier League em faturamento.

O temor já surgia nas palavras do presidente da La Liga meses atrás. Enquanto Javier Tebas era enfático ao dizer que a saída de Cristiano Ronaldo, em 2018, não teve impacto negativo e minimizava o possível retorno de Neymar, era claro no seu principal desejo: “Que Messi siga no Barcelona?, disse em julho passado.

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Os números do Espanhol ainda são impressionantes. Na temporada 2018/2019, a La Liga teve receita recorde já sem Cristiano Ronaldo, com quase 4,5 bilhões de euros (R$ 28 bilhões), que a mantém à frente da Bundesliga, do Italiano e do Francês. Mas a entidade vê seus craques partindo ou se aposentando a cada ano. O reflexo aparece nas listas dos melhores do mundo. Os finalistas deste ano ainda não foram anunciados, mas provavelmente a La Liga só terá dois representantes entre os 10: Messi e Benzema, do Real Madrid.

De 2010 até hoje, em sete temporadas o domínio de jogadores que atuam na Espanha foi absoluto, com até 80% dos indicados em 2016 e 2017 (Neymar já estava no PSG quando saiu a lista, mas a indicação se referia ao período no Barça). Sobretudo da dupla Barcelona/Real Madrid, de onde saiu o melhor do mundo em todas as edições. Porém, nos últimos três anos, o campeonato não ofereceu a maioria dos melhores. Este ano, inclusive, pode ser a primeira vez em mais de uma década que o título não fica na Espanha, sendo Lewandowski, do Bayern, e Neymar, do PSG, os favoritos. A última havia sido com Cristiano Ronaldo, em 2009, no seu primeiro prêmio ainda pelo Manchester United, da Inglaterra.

 

A saída do craque agora não seria o fim do mundo nos planos da La Liga, como fazem crer as palavras dos seus representantes. Parte dos quase 80 contratos de direitos de transmissão dos jogos pelo mundo é de médio a longo prazo, mas tiveram uma leve redução para esta temporada por causa de algumas renegociações pontuais.

O momento, porém, seria dos piores. Com a pandemia, a estimativa do prejuízo pela paralisação é de 200 milhões de euros (R$ 1,25 bilhão). Fora as perdas com vendas de ingressos, movimentação dos museus e lojas dos clubes, por causa dos jogos sem público ou com redução da capacidade da temporada que começa agora. Sem seu grande garoto propaganda, um período já de incertezas seria amplificado.

? A liga tem que estar acima de qualquer jogador e de qualquer clube. Mas eu prefiro que ele fique conosco, é claro. Dentro da nossa estratégia, temos 90% dos direitos para as próximas quatro temporadas vendidos ? disse Javier Tebas.

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Por ter retomado o campeonato antes do dia 12 de junho, a La Liga escapou de ver sua receita cair. Cabia revisão dos contratos de TV, com redução de 25% dos valores, quando se completasse 100 dias do Estado de Alerta imposto pelo governo espanhol. Conseguiu encerrar a competição, com o Real Madrid campeão, Messi maior artilheiro de todos os tempos e o dinheiro no bolso.

Mas é fato inconteste que o fim da era Messi se aproxima. Pela vontade do jogador já teria sido este ano, mas questões contratuais o mantiveram, ao que tudo indica, por mais uma temporada. A idade do craque também é outro fator. Aos 33 anos, ele está mais perto de seguir os passos de Xavi, que deixou o clube aos 35, e de Iniesta, aos 34, desfazendo um dos maiores trios da história do futebol.

? O mais provável é que Messi abandone o Barça e La Liga ao fim da temporada e siga para o City. Só uma excelente temporada e um novo presidente podem convencê-lo a não sair, mas a probabilidade é baixa ? analisa o espanhol Enric Jové, especialista em marketing.

Competição ingrata
Messi tem mais do que o dobro da soma dos seguidores de alguns de seus possíveis substitutos na Liga
número de seguidores nas redes sociais (Twitter, Facebook
e Instagram)
Messi
268 milhões
(não tem página oficial no Twitter)
Griezmann
51,2 milhões
Vinicius Júnior
16 milhões
Rodrygo
7 milhões
Ansu Fati
5,8 milhões
Hazard
48,2 milhões

Competição ingrata
Messi tem mais do que o dobro da soma dos seguidores de alguns de seus possíveis substitutos na Liga
número de seguidores nas redes sociais (Twitter, Facebook
e Instagram)
Messi
268 milhões
(não tem página oficial no Twitter)
Vinicius Júnior
16 milhões
Griezmann
51,2 milhões
Ansu Fati
5,8 milhões
Hazard
48,2 milhões
Rodrygo
7 milhões

 

A permanência do camisa 10 do Barcelona no atípico ano do futebol em meio a uma pandemia será o laboratório de transição da La Liga. Entre os planos, está a aposta na juventude, como a promessa do Barcelona, Ansu Fati, e jovens do Real Madrid, como os brasileiros Vinicius Jr. e Rodrygo. As redes sociais da La Liga já mostram que a promoção dos jovens é uma das saídas. Será um trabalho longo para trazer a audiência digital de Messi, que conta com mais de 268 milhões de seguidores no Facebook e no Instagram. Os três exemplos acima, somados, chegam a pouco mais de 10% dos números do argentino.

 

Outro caminho é reforçar a marca da competição, se sobrepondo aos anos do duopólio Barcelona x Real Madrid promovido por Messi e Cristiano Ronaldo. Não será uma tentativa de reduzir o tamanho do “El Clasico?, mas enaltecer um maior equilíbrio do campeonato. A ascensão do Sevilla, da Real Sociedad e do Villarreal será necessária para tornar o Espanhol tão atrativo quanto o duelo dos dois fenômenos.

? O trabalho de La Liga é oferecer a melhor opção de entretenimento e transmissão, descobrindo novos talentos. Sabemos que algum momento Messi deixará o futebol ou La Liga, como já aconteceu com outros. O trabalho que fazemos é fortalecer o campeonato para que esse círculo continue girando ? afirma Albert Castelló, representante da La Liga no Brasil.

Messi no Barcelona Foto: Editoria de Arte
Messi no Barcelona Foto: Editoria de Arte
Messi no Barcelona Foto: Editoria de Arte
Messi no Barcelona Foto: Editoria de Arte