Coube ao sexto Fla-Flu do ano ser o mais didático em relação às diferenças entre os dois rivais. Com um elenco farto em quantidade e talentos, o Flamengo esbanja técnica e vigor físico a cada rodada. Já o Fluminense, que luta para ter ao menos um time titular de qualidade e ainda perde seus poucos destaques para o mercado europeu, sofre com uma queda de produção. Mais do que o placar (2 a 1 para os rubro-negros), a forma como a vitória se deu mostrou esta distância entre eles.

Foi o quarto triunfo seguido do Flamengo no Brasileiro, onde já não perde há sete rodadas. A arrancada faz com que os rubro-negros durmam na segunda colocação do Brasileiro, com os mesmos 17 pontos do Internacional mas um jogo a menos. No próximo domingo, visita o Ceará, no Castelão.

Já o Fluminense, que chegou a ocupar o G-4, agora é o 9º. O time, que só conquistou um ponto dos últimos nove disputados, tenta se recuperar no domingo, contra o Corinthians.

Assim que Raphael Clauss apitou o início do jogo, jogadores de Flamengo e Fluminense cruzaram os braços por dez segundos. O ato foi um protesto direcionado à invasão dos torcedores do Figueirense ao CT e à agressão aos atletas e funcionários, ocorridas no último sábado. Passado este tempo, no entanto, pode-se dizer que só os rubro-negros abandonaram a posição e entraram na partida. Por 15 minutos, o time de Dome jogou à vontade. Tanto que o primeiro gol, de Filipe Luís, só levou oito minutos para sair.

O feito representou bem o que foi o primeiro tempo do jogo. Bem ao estilo trabalhado pelo técnico catalão, o Flamengo rodou a bola no gramado do Maracanã errando poucos passes e dificultando a marcação do rival. As flutuações no campo tinham um objetivo claro: conduzir a marcação tricolor para um lado e abrir espaço no outro. Foi o que aconteceu quando Éverton Ribeiro, num toque rápido, acionou Isla pela direita. O chileno encontrou o corredor direito livre e cruzou na medida para Arrascaeta cabecear. No rebote, Filipe Luís abriu o placar.

Mesmo depois que compreendeu a proposta do rival, o Fluminense ainda teve dificuldades para acertar sua marcação. A recomposição defensiva do time era lenta, o que abria avenidas para o rival. Se não foi mais atacado é porque o Flamengo de Dome roda mais a bola do que finaliza.

Na frente, a dificuldade dos tricoolores era tão grande quanto atrás. Uma das principais peças da construção da equipe, Dodi não encontrou espaços para atuar. Michel Araújo acabou ficando sozinho nesta função. Até fez sua parte, mas não era o suficiente. Com o trio de frente, formado por Nenê, Fernando Pacheco e Wellington Silva com atuações apagadas, o uruguaio se esforçava praticamente sozinho.

Se não ajudavam na frente, os atacantes ainda prejudicavam atrás. Pacheco apenas assistiu Filipe Luís marcar o primeiro gol. Já o segundo nasceu em falta cometida por Wellington Silva. Muriel rebateu para frente a cobrança de Arrascaeta, e Gabigol, esquecido pela zaga tricolor, fuzilou o gol.

As mudanças feitas por Odair Hellmann no segundo tempo até fizeram o time se aproximar mais da meta rubro-negra. Principalmente as entradas de Fred, que passou a ser um ponto de preocupação para os zagueiros, e de Luiz Henrique, que deu mais infiltração e velocidade à equipe. Mas nada que ameaçasse de fato.

Com o esquema de Dome de dosar a minutagem entre os jogadores, o Flamengo sobrou fisicamente em relação ao adversário na etapa final. O time passou mais 45 minutos rodando a bola e chegando eventualmente à area tricolor. Fosse com mais sede ao gol, poderia ter tranformado sua superioridade em goleada.

A acomodação rubro-negra garantiu uma pouco de emoção no fim, quando Digão aproveitou a falta de atenção de Gustavo Henrique e de Gabriel Batista e descontou, aos 46. Mas já era tarde demais para o Fluminense buscar o empate.