Enganou-se quem previu que os quase seis meses de prisão no Paraguai por porte de documentos adulterados obrigariam Ronaldinho Gaúcho a dar um descanso à própria imagem. Em seus primeiros dias no Brasil, ele reativou parcerias comerciais, estampou placas publicitárias num jogo do Brasileiro e anunciou um filme biográfico. Episódios que levam ao questionamento: seria a reputação do craque imune a polêmicas?

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A reação do público sugere que sim. Ao deixar o hotel no qual cumpriu mais de quatro meses de regime domiciliar, em Assunção, o ex-jogador foi cumprimentado e aplaudido pelos funcionários. No Rio, foi tietado durante o desembarque no aeroporto. Nas redes sociais, suas postagens durante e após a prisão sempre foram acompanhadas de elogios.

? O brasileiro tem muito essa imagem cômica do Ronaldinho. De quem leva a vida numa boa ? diz Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da ESPM. ? Ele não representa a imagem do atleta que faz o esforço da dieta, da concentração… É o jogador que tem vida mais liberal, que segue menos as regras e que consegue ter sucesso. De alguma maneira, a cultura brasileira tolera isso.

Ronaldinho cumpriu seis meses de prisão, a maior parte em um hotel em Assunção. Ele e o irmão Assis foram condenados pelos documentos adulterados, mas a Justiça do Paraguai aceitou pagamento de multa de US$ 200 mil (pouco mais de R$ 1 milhão). A condenação, com isso, foi suspensa. Por dois anos, Assis precisa se apresentar às autoridades policiais no Brasil, mas Ronaldinho não.

Na visão dos especialistas, todo esse carisma não impede que Ronaldinho tenha passado incólume pela prisão. Sua imagem ganhou uma mancha que normalmente reduz o interesse do mercado. A tendência é que ele passe a ser visto como vitrine apenas para um nicho de marcas.

? A gente tem que analisar de uma forma geral. O que aconteceu não foi bom para a imagem dele. Mas para empresas voltadas ao público que frequenta a noite ou que estejam mais ligadas ao seu modo de vida pode fazer sentido tê-lo como garoto-propaganda ? diz Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports & Marketing:

? Ele não passa a ser nulo no mercado. Pode ser interessante para uma marca de bebida alcoólica, boate, festa, cassino, site de apostas… Porque ele é descolado.

?O Ronaldinho voltou?

Assim que o ex-atleta regressou ao Brasil, ele e o site de apostas esportivas Betcris retomaram a parceria iniciada há um ano. O retorno não foi nada discreto. Além de um vídeo veiculado nas redes sociais, um anúncio vem sendo estampado nas placas de publicidade do Brasileiro. A primeira vez foi na Vila Belmiro, no último dia 30, no jogo entre Santos e Flamengo. A coincidência favoreceu a ação. Foi no Santos 4 x 5 Flamengo, no mesmo estádio, em 2011, que Ronaldinho teve uma de suas melhores atuações pelo Fla. A placa dizia: “O Ronaldinho voltou ao Brasileirão?.

? Ronaldinho é uma lenda e um grande embaixador da Betcris. Sempre o apoiamos e esperamos pacientemente por este momento no qual continuaríamos com os projetos que iniciamos ? diz o CEO da marca, JD Duarte, em comunicado.

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A reputação de Ronaldinho está longe de ser considerada terra arrasada. Ele sabe explorar a imagem do Bruxo, apelido que ganhou pelo seu estilo de jogo. Além de garoto-propaganda do site de apostas, ele é embaixador da Teqball, empresa que batiza a modalidade também conhecida no Brasil como futmesa. O ex-atleta também dá nome a uma rede de escolinhas de futebol em diversos países.

Contudo, seu desgaste não teve início com a prisão no Paraguai. Em 2018, o ex-jogador e seu irmão Assis tiveram os passaportes confiscados pelo não pagamento de uma multa por crime ambiental. No início de 2020, os dois passaram a ser processados por ligação com uma empresa acusada de prática de pirâmide financeira e que usava o nome e a imagem de Ronaldinho.

? Acho que ele construiu uma imagem já em volta de alguém que tem envolvimento com polêmicas fora de campo ? diz Ivan Martinho. ? O mais provável é o Ronaldinho ficar sem estrelar campanhas publicitárias por algum tempo. Mas à medida que o assunto for esquecido pode voltar a ser um ativo interessante.

Posição de vítima

O tempo é aliado do ex-jogador. E não apenas porque seu delito no Paraguai pode cair no esquecimento. Mas também porque pode ser usado para colocá-lo em posição de vítima.

? Se teve um lado positivo para a imagem do Ronaldinho nesta história foi justamente o longo período em que ficou detido. O primeiro impulso de quem está de fora é julgar e condenar. Neste caso, ficou a percepção de que a punição foi maior que o delito, exagerada, fazendo com que ele ficasse na posição de vítima ? diz Fernando Mello, fundador da PressFC, especializada em gerenciamento de imagem e de crise: ? Penso que o julgamento da imagem dele seria devastador caso tivesse ficado menos tempo.

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Esse “lado positivo?, claro, vai depender de como Ronaldinho levará a vida daqui para frente. Afinal, só “bruxaria? não é o suficiente para sustentar uma imagem.