A forma como o Botafogo enfrentou o Atlético-MG no Nilton Santos pode não ser esteticamente bonita, atraente. Possivelmente nem seja o que Paulo Autuori planeja ou sonha para seu time. Mas como plano de contingência, para se adequar a um rival de características muito peculiares, acabou funcionando. O jogo aconteceu quase todo no campo defensivo do Botafogo, que ainda assim venceu por 2 a 1 e teve outras boas oportunidades.
É um daqueles jogos que contrariam as estatísticas. Quem olhar os números pode ter certa dificuldade de entender que a partida foi ganha pela equipe que finalizou dez vezes, contra 30 do rival; ou que teve sete escanteios mas cedeu 26, enquanto ficou só 26% do tempo com a posse de bola. Mas os números refletem, na verdade, um duelo de propostas antagônicas. O Botafogo não venceu porque abriu mão da bola, tampouco o Atlético-MG perdeu porque tentou jogar no campo alvinegro com seus cinco atacantes. O Botafogo ganhou porque teve acertos em sua ideia, e explorou as fragilidades que o ex-líder do Brasileiro ainda tem. Ainda assim, não é simples que tal modelo resista em muitos jogos como o de ontem, com a bola rondando sua área por tanto tempo.
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A ideia de Autuori foi clara. Contra um time que tenta jogar no campo rival, com uma linha de cinco atacantes e laterais fechando como meias, deixando só os dois zagueiros na última linha defensiva, ele apostou em velocidade para explorar os espaços pelos lados do campo, com Luis Henrique e Luiz Fernando. Além disso, escolheu dois volantes vigorosos à frente da defesa, com Luiz Otávio e Guilherme ?Honda e Caio Alexandre foram poupados, mas este último entrou no segundo tempo para renovar o fôlego. O Botafogo não se incomodou com o fato de o Atlético-MG ocupar o campo ofensivo: queria atacar os espaços. E como seria difícil sair jogando por baixo diante da pressão mineira, Autuori, que também poupou Bruno Nazário, escolheu dois homens de boa estatura na frente para ganhar duelos no alto: Pedro Raul e Matheus Babi.
O Botafogo, de fato, tinha dificuldade de sair jogando e a bola rapidamente voltava às imediações de sua área. Mas a cada desarme feito na intermediária ou a cada bola esticada para os atacantes ganharem o duelo aéreo, o time conseguia gerar perigo. No primeiro tempo, além da escapada de Luís Henrique que terminou no gol de Luiz Fernando, aos 26 minutos, o Botafogo teve outras duas ótimas chances de marcar.
Nem tudo funcionou à perfeição, tanto que duas bolas se chocaram contra o travessão de Gatito Fernández, a última delas já no segundo tempo. O Atlético-MG rondava o gol alvinegro, mas ainda vive uma fase de adaptação à ideia de Jorge Sampaoli. A recomposição defensiva é uma destas questões. Além disso, nem sempre o volume de jogo corresponde a um número elevado de chances claras.
Ontem, o time teve boas situações no primeiro tempo, mas recorria demais ao duelo pessoal de Keno contra Barrandeguy pelo lado esquerdo. O Botafogo bloqueava bem o centro da área.
No segundo tempo, Autuori dobrou a aposta. Tirou Pedro Raul e colocou Rafael Forster, que é zagueiro, para se juntar à linha de volantes. Facilitou a proteção à frente da área, tentando também impedir as infiltrações que o Atlético-MG buscava, entre laterais e zagueiros do Botafogo. Ainda assim, uma jogada de Bruno Silva terminou em chute de Savarino ? a segunda bola no travessão ?, além de boa oportunidade perdida por Hyoran. Mas também havia ação do outro lado do campo. Numa delas, Babi, muito bem na dura tarefa de brigar com zagueiros e reter a bola até o time se aproximar, ganhou duas divididas e deu o gol a Bruno Nazário. Mas o lance foi anulado por toque de mão. A três minutos do fim, o próprio Babi cruzou para Caio Alexandre fazer o segundo gol. Nos acréscimos, o ex-alvinegro Igor Rabello descontou.
Fonte: O Globo