Hoje, às 16h, o estudante Claudio Gonçalves tem um ritual a seguir: fechar todas as portas da casa, deixar o celular de lado e se isolar em frente à TV. É dia de jogo importante. Não do Flamengo, seu time de coração, mas do ídolo Neymar, a quem segue desde os 10 anos. É a chance do atacante do Paris Saint-Germain levar pela primeira vez o clube francês à final da Champions League no confronto com o alemão RB Leipzig, no Estádio da Luz, em Lisboa.
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Na última década, Claudio não apenas comemorou os golaços de Neymar pelo Santos, Barcelona, PSG ou seleção brasileira. Cortou o cabelo no estilo moicano inúmeras vezes para desespero da mãe, adotou o estilo esportivo nos tênis e camisas da Nike e incluiu no vocabulário as gírias do jogador e seus parças.
? Usava muito “é toiss”, mas fui deixando de usar. Neymar marcou minha geração. Ele, dentro de campo, pela ousadia que possui, é a representação do futebol brasileiro e muitas crianças (eu me incluo) e adolescentes se viam nele. Todos queriam usar a mesma chuteira, ter o mesmo corte de cabelo e copiar os dribles ? diz o estudante de jornalismo, de 19 anos.
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O jovem é apenas um dos mais de 248 milhões de seguidores que Neymar carrega nas três principais redes sociais (Twitter, Facebook e Instagram). Na semana passada, a #neydemoicanonachampions viralizou antes do jogo com a Atalanta. Milhares de internautas postaram foto do jogador com o corte de cabelo e a camisa dos seus clubes de coração em apoio ao camisa 10.
Do lado oposto aos “Neymarzetes”, os “haters”, tão comuns no ambiente da internet, estão lá. Destacando a fama de cai-cai, reduzindo seu talento a lampejos e evidenciando o marketing por trás do jogador.
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Seja qual for o lado, eles se complementam e transformam o jogador num fruto da sua própria geração. Neymar é um ativo de marketing, que gera 100 milhões de euros (cerca de R$ 600 milhões) só em propagandas em um ano. Uma máquina de publicidade capaz de estampar tudo. Desde serviços financeiros a produtos cosméticos. A aparição constante nas mídias tradicionais e sociais o mantém em destaque, para o bem e para o mal. Em 2019, ele apareceu em terceiro lugar entre os jogadores de futebol com mais interações nas redes, com 289 milhões. Atrás apenas de Messi e Cristiano Ronaldo.
Mas uma máquina comercial só existe por causa do valor agregado. O de Neymar é o talento no futebol. Se suas derrotas e más atuações servem de alimento para quem não gosta dele e pôde amplificar sua voz na internet, os dribles e gols impulsionam a marca aos níveis estratosféricos. Foi pela sua atuação no Barcelona que o milionário PSG desembolsou 222 milhões de euros (mais de R$ 1 bilhão na cotação atual) para tê-lo e elevar a marca do clube francês.
? A mídia tradicional e as redes sociais até podem editar a saga do herói, mas o que conta mais é o que ele fizer dentro de campo. Não tem como ser apenas uma celebridade e viver dela enquanto ele for um atleta de alto rendimento. Ele precisa das conquistas e o torcedor, em geral, é muito volúvel. Se viver apenas como celebridade vai ter mais “haters” do que “lovers”. Ele constrói a própria história e o futebol é o que vai determinar como será ? afirma o sociólogo do esporte e professor da Uerj, Ronaldo Helal.
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O gestor de esportes Leonardo Baideck ratifica a necessidade do foco no futebol para que a narrativa positiva prevaleça. É o desempenho dele que alimenta ambos os lados:
? Com a capilarização das redes sociais, para se tornar uma celebridade não precisa ter uma performance, basta chamar atenção. Mas isso dura um período, um pouco mais do que os 15 minutos. Porém, se não tiver algo consistente desaparece rapidamente. No caso do Neymar, a performance esportiva dele é o elemento essencial para fazê-lo herói ou vilão.
Os números de Neymar em campo, inclusive, contradizem a má vontade de parte dos amantes do futebol pelo comportamento do atleta fora de campo. Apenas na Liga dos Campeões, são 14 gols e oito assistências em 18 partidas. No PSG, já foram 70 gols e 40 assistências em 80 partidas.
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Porém, lhe falta a grande conquista internacional como protagonista absoluto. Para isso ele deixou o Barcelona e agora tem a grande chance. Numa Champions remodelada por causa da pandemia, o jogo único pode ser favorável. Uma atuação impecável pode ser o suficiente para levar o PSG à final e desbancar o Bayern de Munique, que surge como amplo favorito, mas ainda tem de enfrentar o Lyon.
O troféu da Champions ou uma Copa do Mundo, na opinião de Baideck, o levariam ao patamar de Messi e Cristiano Ronaldo como celebridades mundiais praticamente intocadas.
? Ele (Neymar) é filho das redes sociais, está no DNA dele e por isso ele sabe viver nesse mundo. Mas está numa prateleira abaixo de Messi e Cristiano Ronaldo, que transformam em ouro tudo que tocam, até independentemente da performance.
Para chegar lá, Neymar terá que driblar a zaga do Leipzig hoje como faz com os “haters? nas redes sociais ? para a alegria de Paris e de milhões de “Neymarzetes?.
Fonte: O Globo