Fellipe Bastos é do tipo de jogador que é bom ter no vestiário. Simpático, agregador, distribui sorrisos, faz dancinhas, lida bem com períodos na reserva. O problema era quando precisava sair dos bastidores, da resenha, e entrar em campo, lidar com as próprias limitações e a eterna impaciência da torcida. Ela não é mais problema: desde março que não pode frequentar as arquibancadas e sabe-se lá quando voltará por causa da Covid-19. Já as limitações, elas continuam lá, mas há virtudes que podem servir de contrapartidas.
Nesta quinta-feira, elas apareceram na vitória do Vasco sobre o Sport por 2 a 0, na estreia do time no Campeonato Brasileiro. Fellipe Bastos pode errar alguns passes, mas tem boa presença de área. Ramon Menezes deu liberdade para o volante chegar mais ao ataque e foi assim que ele aproveitou o cruzamento de Benítez para abrir o placar.
Bastos, aos 30 anos, pode não ser dos mais velozes, mas tem muita qualidade quando não precisa correr, na bola parada. Nesta quinta-feira, ele deu duas demonstrações disso em sequência. Em uma cobrança de falta de longa distância, bateu com força e técnica, pegou na bola como Cristiano Ronaldo e acertou a trave. Pouco depois, veio a nova tentativa, dessa vez mais perto da área do Sport. A batida chapada na bola com o pé direito foi certeira: 2 a 0 Vasco.
? Ramon cobra muito da gente nos treinos de falta. Ele também pede para que a gente apareça na área ? explicou Fellipe Bastos no intervalo.
Sua história no Vasco é feita de altos e baixos. Membro do elenco campeão da Copa do Brasil em 2011 e vice-campeão brasileiro no mesmo ano, viveu o último espasmo de glória do time de São Januário. Saiu e retornou em 2019, um arranjo menos baseado em critérios técnicos e mais na dívida que o clube acumulava com ele da primeira passagem.
No começo desse ano, saiu dos planos, mas depois assinou outro contrato quando aceitou baixar a pedida salarial. Nesta quinta-feira, foi imprescindível para o Vasco estrear no Brasileiro com vitória com dois gols de vantagem. Parece pouco, mas isso não acontecia desde 2011.
Talles apagado
O protagonismo foi dividido com Benítez, argentino que veste a camisa 10 e que teve atuação digna do número. Além da jogada do primeiro gol, distribuiu dribles, finalizou bem, armou as jogadas de ataque. Aos poucos, ele cresce de produção. Se o desempenho contra o Sport for regra e não exceção neste Brasileiro, será de grande utilidade para Ramon Menezes.
Do outro lado da análise, está Talles Magno. O camisa 11 teve noite apagada, mais uma na temporada deste ano. Ele teve dificuldades para criar jogadas, driblar, passar. Esteve longe de ser aquela joia que impressionou no segundo semestre do ano passado. Deixou a partida no segundo tempo, quando o Sport ensaiava uma pressão para tentar diminuir a vantagem vascaína. Praticamente não levou perigo ao gol defendido por Fernando Miguel, a não ser em uma bola cabeceada na trave aos 40 minutos.
O auge mesmo dos pernambucanos, curiosamente, foi no primeiro tempo. Mesmo em desvantagem no placar, conseguiu impor uma marcação sob pressão que dificultou demais a saída de bola da equipe da Colina. Leandro Castan e Ricardo Graça erraram passes em sequência e com isso , tirando as jogadas de gol, pouco o Vasco criou. Germán Cano teve apenas uma finalização em condições mais favoráveis. Mandou para fora, mas levou perigo ao Mailson.
Na próxima rodada, o Vasco jogará novamente em São Januário, domingo, contra o São Paulo. O adversário traz boas lembranças, perdeu as duas últimas na Colina pelo Brasileiro. Ano passado, quem deixou a sua marca foi Fellipe Bastos.
Fonte: O Globo