Bastou uma rodada do Brasileirão, com jogos adiados e casos de Covid-19 de última hora, para que o protocolo da CBF e a própria realização do campeonato fossem colocados em xeque. Tanto que a comissão médica da entidade mudou algumas diretrizes, que foram confirmadas em reunião nesta quarta-feira, após a confusão ocorrida com o Atlético-GO, que soube pela imprensa que quatro jogadores seus haviam sido testados positivamente para o coronavírus na noite de terça-feira e seriam suspensos. Os goianos se defenderam e os atletas foram liberados. Em situação parecida, o Corinthians resolveu manter Gil e Léo Natel fora do jogo.
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Com os exames atuais feitos pela CBF, no último domingo, e os feitos pelo clube em mãos, o Atlético-GO se valeu da nova linha utilizada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), agência do serviço de saúde dos Estados Unidos, e que já foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em julho. Ou seja, um novo exame de PCR positivo após dez dias da última testagem não significa que a pessoa tenha o vírus no corpo capaz de transmiti-lo a outro.
Os quatro atletas do Atlético-GO foram diagnosticados via PCR com Covid-19 em julho ? acompanhando o aumento de 165% do número de casos no estado de Goiás naquele mês. Todos fizeram a quarentena de pelo menos 10 dias, assintomáticos durante o tempo todo, e testados novamente. Logo depois, testes sorológicos mostravam que os jogadores já tinham tido contato com o vírus e possuíam anticorpos para o mesmo.
? Todos os nossos atletas foram testados, a comissão técnica e a parte administrativa. No nosso retorno, em junho, não tivemos nenhum caso. Os casos apareceram em julho e controlamos com nosso protocolo. Já sabia que era possível que esses testes poderiam dar positivo e teriam essa interpretação. Mas o resultado chegou em outras vias e causou a repercussão. Já tínhamos nossa defesa pronta ? explicou o chefe do departamento médico do clube, Gleyder Souza, acrescentando que o inquérito epidemiológico do clube é feito diariamente. ? Se algum desses jogadores tivesse tido algum sintoma, a situação era totalmente diferente. Eles não poderiam jogar e o tempo de quarentena seria bem maior.
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O protocolo da CBF prevê a liberação da informação e o descredenciamento automático de atletas e membros das delegações em caso de PCR positivo. Porém, a decisão sempre poderá ser revertida com a apresentação de outras provas.
Novos laboratórios credenciados
A diretriz americana em que se baseou o Atlético-GO passou a constar do protocolo da CBF na última segunda-feira, segundo o médico Gleyder Souza. Assim, todo jogador que tenha um segundo teste de PCR positivo num período de 10 ou mais dias, desde que assintomático, estará apto para entrar em campo. Os clubes sao obrigados a entregar à entidade todo o histórico recente dos atletas.
A isso a Comissão Médica da CBF, acrescentou, nesta quarta-feira, a autorização de que outros laboratórios realizem os exames com antecedência à próxima rodada. Uma forma de evitar que os resultados sejam entregues com delegações inteiras já em deslocamento para a partida. A partir da rodada do fim de semana, todo o elenco será testado. Assim, em caso de alto número de jogadores com testes positivos, o time poderá repor as peças a tempo e evitaria outros adiamentos.
Até o momento, apenas o laboratório do Hospital Albert Einstein estava credenciado para realizar os testes de todos os jogadores inscritos nas séries A, B e C do Brasileirão. Agora, uma lista de laboratórios locais, credenciados pela CBF, ficará disponível para os clubes realizarem os exames com mais agilidade em seus estados.
? Concentrar 60 clubes num único laboratório não é viável. Isso já tinha sido observado pela CBF no sábado e foi logo mudado. Em ocasiões que se jogue num estado longe de casa, como Fortaleza, por exemplo, não vamos mais esperar retornar à cidade para fazer os exames no dia seguinte. Todas as cidades que vão sediar partidas terão laboratórios disponíveis ? afirmou o médico Gleyder Souza.
Protocolo em voos comerciais
A realização de um campeonato continental das três divisões também levantam ao questionamento da realização das viagens. Na primeira rodada, houve casos de membro da arbitragem ter viajado sem saber do resultado positivo. O Imperatriz, do Maranhão, teve o jogo de estreia com Treze, em Campina Grande, adiado ao saber dos 12 resultados positivos do seu time já na cidade da partida. No confronto entre Goiás e São Paulo, o tricolor paulista foi até Goiânia, mas a partida teve de ser suspensa já com os times em campo por causa dos casos confirmados do Goiás horas antes do início.
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Na Série A, os clubes mais ricos têm condições de bancar voos fretados para as delegações, que podem custar até R$ 230 mil, segundo o presidente do Atlético-GO, Adson Batista. A maioria, porém, utilizará a verba dada pela CBF para voos comerciais.
? A entidade passa pouco recurso, isso poderia ter sido visto. Mas todo mundo que viajar estará testado, a logística no aeroporto é deixar a delegação separada, assim como no voo ? diz o dirigente, que considera seguro o protocolo, mas é normal que se precise fazer ajustes.
Fonte: O Globo