Causou certo impacto o recurso utilizado por Domènec Torrent nos últimos 15 minutos da derrota do Flamengo para o Atlético-MG. Com o placar desfavorável, terminou o jogo com cinco atacantes. Longe de ser uma aleatoriedade com o único intuito de acumular jogadores ofensivos, a chamada “reinversão da pirâmide? é um recurso recorrente em uma linha de pensamento da qual Torrent faz parte. Em especial quando os adversários tendem a se fechar atrás.

Após a troca de Gerson por Vitinho, o Flamengo passou a se defender num conhecido 4-4-2, com a diferença de que Vitinho recompunha a linha de meias junto a Arão. A grande diferença se dava ao atacar, quando o time formava um 2-3-5 (veja os diagramas ao lado). Os dois zagueiros permaneciam na última linha, os laterais Rafinha e Filipe Luís se juntavam a Arão como meias e, na frente, Michael e Bruno Henrique eram pontas abertos, tentando ampliar campo para abrir a defesa do Atlético-MG, àquela altura também com cinco homens. Pedro, Gabigol e Vitinho completavam a linha ofensiva.

? Jogamos com cinco atacantes porque eles estavam com cinco defensores nos últimos 20 minutos ? disse Domènec.

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Mas de onde surge a tal “reinversão da pirâmide?? É preciso voltar mais de um século no tempo. Nos primórdios do jogo, o 2-3-5 imperou por algumas décadas, começando a ser substituído na metade dos anos 1920. Colocado num diagrama, o sistema se assemelhava a uma pirâmide em que a base era a linha de ataque.

. Foto: Arte O Globo
. Foto: Arte O Globo

 

Gradativamente, a lei do impedimento e a imposição de preocupações mais defensivas foi invertendo a pirâmide. Ou seja, a linha defensiva ficou mais larga e muitos ataques passaram a ter um só homem. Mas como o futebol é um jogo de ação e reação, diante de defesas superpovoadas foram surgindo, de mentes ousadas, novas estratégias de ataque. E com inspiração nos primórdios do jogo.

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Em sua passagem pelo Bayern de Munique, Pep Guardiola, então auxiliado por Torrent, passou a utilizar ataques em 2-3-5 com frequência. Fazia Lahm se tornar um dos meias e transformava Alaba em atacante junto a Robben, Ribéry, Muller e Lewandowski, por exemplo. Era uma mera volta ao passado? Não. Apenas o mesmo desenho adaptado ao novo contexto, que exigia pressão no campo ofensivo, um time compacto e, quando o adversário chegava ao ataque, reorganização defensiva com mais do que os dois defensores de um século atrás.

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No ano passado, Jorge Sampaoli, outro adepto do chamado “Jogo de Posição?, também fez seu Santos atacar no 2-3-5. A questão rubro-negra é que esta solução, usada como plano de emergência no domingo, ainda é nova para boa parte do elenco, já que Domènec acaba de chegar. Assim como mecanismos do “Jogo de Posição?. E os números retratam as dificuldades. O time finalizou 16 vezes diante do Atlético-MG, três delas nos 15 minutos em que teve cinco atacantes. Neste período, não levou perigo.

Teve 66% de posse na parte final do jogo, mais do que os 63% de média na partida. Mas a construção não resultou em grandes chances e o time cruzou muitas bolas: seis vezes nestes 15 minutos contra 14 nos 75 minutos anteriores. O que explica Torrent ter revelado a preocupação em ver o meio-campo produzir mais.