Em 21 das 31.768 edições do GLOBO em sua história, havia uma final de Copa do Mundo para noticiar, sempre com um olhar para além dos resultados de jogo. Entre campeões e derrotados, observar as primeiras páginas que distribuíram glórias e criaram vilões é entender como o futebol e o próprio jornal se transformaram. A bola e a História se misturam enquanto o esporte mais popular do país moldava parte da identidade nacional, em um interesse que cresceu ao longo dos anos.
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Há um corpo estendido no chão, na primeira página de um dia após a final da primeira Copa, em 1930. É de João Pessoa, governante da Paraíba ? já candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio ?, que morrera assassinado dias antes. Além de desencadear a Revolução de 1930, a notícia fez com que a decisão entre Uruguai e Argentina, vencida pelos donos da casa em Montevidéu, seja a única das finais de Copa que não foi notícia de capa no jornal. Uma notinha dentro do jornal registrava o feito, destacando que os uruguaios se ganhavam o Campeonato Mundial pela terceira vez, evidenciando que até então, o futebol nos Jogos Olímpicos eram considerados mundiais.
As primeiras páginas após finais de Copa em que o Brasil não chega à decisão dividem espaço com notícias que mostram como a trajetória do mundo rolou junto com a bola. Como em 1934, na Itália, na primeira vez em que a capa teve fotos e descrição minuciosa do jogo decisivo ? junto com um parágrafo sobre a entrada triunfal de Mussolini no estádio, enquanta a “banda de música da milícia fascista” tocava. Enquanto a Alemanha vencia em 1974, o GLOBO noticiava o aumento da tensão entre israelenses e palestinos naquele ano. No triunfo da Argentina, em 1978, a primeira página mostrava que o presidente militar João Figueiredo pretendia retomar as eleições diretas para governador no país, no começo da abertura.
A Guerra do Líbano estourava junto com a final de 1982 entre alemães e argentinos. Em 2014, na final no Maracanã, o país e o futebol se misturavam: o destaque principal era o tetra da Alemanha contra a seleção de Messi. Uma nota embaixo com as vaias à presidente Dilma Roussef evidenciavam o conturbado momento político.
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Nas vitórias e derrotas em finais, porém, o futebol domina as capas. Não há espaço para o mundo quando se ganha ou perde a Copa. “Campeão o Uruguai?. É direta e doída a manchete da primeira página do Maracanazo em 1950. Embaixo, a notícia de que um sargento – João da Silva (talvez o mais brasileiros dos nomes) faleceu subitamente no último minuto de jogo. “Morreu de emoção”, dizia a manchete. E talvez tenha sido a emoção de ser o protagonista do Brasil numa final de Copa que tenha atrapalhado Ronaldo 38 anos depois. Em 1998, a premonitória chamada diz que a França adiava o sonho do penta, que aconteceria em 2002.
Em 1958 e 1962, as primeiras páginas noticiariam a mais feliz novidade: a vitória. Em 1958, com fotos da festa que tomou conta do Rio de Janeiro enquanto o time encantava a Suécia. A febre do futebol toma conta do país e das páginas do GLOBO com o bi no Chile em 1962. É a primeira vez que a capa do jornal dedica todo o espaço à decisão de um Mundial. A capa de 1970 ? com um “TRI?em letras garrafais ? desafia o tempo e ganha continuidade em 1994, com um “TETRA? gigantesco no alto da página.
A digitalização do mundo também chegou à Copa. Os mundiais do século XXI levaram o foco do jornal para a cobertura online. O olhar, igualmente, se modernizou. O título da França em 2018, por exemplo, foi visto com a ótica da miscigenação cultural que o país viveu, com uma seleção envergando a mesma camisa, mas vários tons de pele distintos. O jovem Mbappé, campeão aos 19 anos, representa o futuro, que no caso da Copa é em 2022, no Qatar. O jovem francês deverá estar lá. O GLOBO também.
Fonte: O Globo