O legado de Jorge Jesus no Flamengo vai além dos cinco títulos em pouco mais de um ano. Com seu estilo ofensivo, o treinador fez os rubro-negros redescobrirem o prazer de ganhar jogando bem, dominando os adversários. Por isso, nomear um sucessor é tarefa das mais ingratas. Em vez do constante recomeço a que os clubes brasileiros se habituaram, a busca agora é por alguém capaz de dar continuidade ao modelo de jogo.

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Os dirigentes rubro-negros não têm pressa, e o único consenso parece ser o de que um profissional brasileiro não agradaria. O vice-presidente de futebol, Marcos Braz, já está em Portugal para iniciar conversas. Mas convencer um estrangeiro a trabalhar aqui ? e em meio à pandemia ? promete ser duro, principalmente porque não há muitos parecidos com Jesus no mercado.

O Mister moldou um time intenso, caracterizado pela linha defensiva alta e por homens de frente que trocavam constantemente de posição. Seu Flamengo pressionava o adversário desde o campo ofensivo para tentar roubar a bola e chegar ao gol em poucos toques.

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Dos nomes cogitados até o momento, dois portugueses poderiam conduzir uma transição mais suave. O primeiro é Leonardo Jardim, de 45 anos, desempregado desde a saída do Monaco, no ano passado. A interlocutores, ele afirmou que vislumbra um novo trabalho na Europa. Mas, caso o rubro-negro o atraia, terá um profissional versátil, que se deu muito bem com uma proposta vertical na conquista do título francês de 2016/17.

Jardim prefere distribuir seu time no 4-4-2, o que mexeria no desenho de Jesus (4-1-3-2), mas não nas funções dos jogadores. Willian Arão continuaria a ser o homem da saída de bola, enquanto Gerson ditaria o ritmo do meio-campo, abastecendo Arrascaeta e Everton Ribeiro nas pontas. A mobilidade de Gabigol e Bruno Henrique seria preservada.

? Com a bola, os times do Jardim se aproximam muito dos do Jesus. Eles gostam de dois meias que circulem por dentro, dois atacantes de muita movimentação e de laterais que não fiquem sempre abertos ? analisa Leonardo Miranda, do blog “Painel Tático? do Globoesporte.com: ? Jesus gosta de muita gente perto da bola, e o Jardim é assim.

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Uma alternativa mais realista é Carlos Carvalhal, de 54 anos, cotado para deixar o Rio Ave, sexto colocado no Português, ao fim da temporada. Trata-se de um treinador de currículo modesto, com dificuldade para conduzir trabalhos mais longos, mas com ideias próximas às de Jesus, o que inclui a linha defensiva bem adiantada.

? Carvalhal conseguiria ler o estilo atual do Flamengo, trabalhando os pontos fortes da equipe e adaptando as movimentações ofensivas ao seu modelo ? diz o português Luís Cristóvão, da rádio Antena 1.

. Foto: Arte O Globo
. Foto: Arte O Globo

 

Outro lusitano comentado na Gávea, mas de estilo bem diferente, é Marco Silva, de 43 anos, desempregado. Ele não chega a ser um retranqueiro, mas de fato é um treinador com menos apreço pela posse de bola. Suas equipes se adaptam aos rivais, mas em geral trocam menos passes, alargam o campo em busca de espaço e atacam pelas pontas.

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O histórico recente de Marco Silva, porém, não anima. Após passagens bem avaliadas por Hull City e Watford, ele viu a trajetória no Everton terminar sob críticas, entre elas as de que o time não tinha consistência tática, de que a defesa ficava muito exposta e de que as bolas paradas eram fatais. Também houve problemas de relacionamento com o elenco.

? O Carvalhal teria maior interesse em experimentar o mercado brasileiro. Embora treinar o Flamengo seja uma grande proposta, Jardim e Silva têm mercado na Europa ? avalia Cristóvão.

. Foto: Arte O Globo
. Foto: Arte O Globo

Na lista rubro-negra, não há apenas adeptos de um estilo mais vertical. Dois treinadores que ganharam força nos últimos dias, os espanhóis Miguel Ángel Ramírez e Domènec Torrent, são adeptos do jogo de posição, cujo principal expoente hoje é Pep Guardiola. Também fazem parte dessa escola, com variações aqui e ali, os argentinos Jorge Sampaoli e Marcelo Bielsa. São profissionais tão ofensivos quanto Jesus, mas que, em vez de estimular intensa movimentação em torno da bola, acreditam que os jogadores devem ocupar zonas predeterminadas do ataque e esperar pela bola.

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Essa sutil diferença teria impacto direto nas movimentações em campo. Everton Ribeiro, por exemplo, não teria tanta liberdade para deixar o lado direito. Já Gabigol precisaria se preocupar em ser uma presença mais constante dentro da área.

? Seria uma mudança brusca. É um modelo de jogo igualmente ofensivo, mas com mecânicas quase opostas ? explica Miranda.

São também treinadores de pouca experiência em voos solo. Ramírez, de 35 anos, ganhou notoriedade já no seu primeiro trabalho em um time profissional, no ano passado. Ele conduziu o Independiente del Valle, do Equador, ao título da Copa Sul-Americana com futebol de encher os olhos.

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Já Torrent foi técnico principal na elite apenas no New York City, dos EUA, entre 2018 e 2019. Antes, porém, foi auxiliar de Guardiola por mais de uma década. O catalão disse, nesta semana, que seu pupilo está pronto para voos mais altos ? opinião compartilhada pelo jornalista Jeff Carlisle, da ESPN americana:

? Ele definitivamente é um discípulo de Pep Guardiola. O time trocava passes rápidos desde a defesa e pressionava os rivais. Era atraente.

Também foram mencionados no Flamengo o espanhol Unai Emery, que deve assinar com o Villarreal, e o argentino Marcelo Gallardo, que, além de fiel ao River Plate, tem pouco a ver com o estilo de jogo que encheu os olhos dos rubro-negros.