O Dia Mundial do Câncer, comemorado em 4 de fevereiro, chama atenção e mobiliza pessoas em ações de alerta contra um dos maiores inimigos da humanidade. Estas ações visam mobilizar a sociedade a pressionar governos para que adotem políticas firmes e contínuas de prevenção e acesso ao tratamento e à reabilitação. Mas, qual o caminho para que futuros 4 de fevereiro passem a ser dias de celebração da vitória contra a doença? Conhecimento.
Cenário internacional e nacional
Estima-se que, em 2019, ocorrerão 18 milhões de casos de câncer no mundo todo. No mesmo período, mais de 9,6 milhões de pessoas morrerão devido à doença. De acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), cerca de 600 mil pessoas receberão o diagnóstico de câncer este ano e a doença será a principal causa de morte no país em aproximadamente uma década.
O câncer pode ocorrer em qualquer idade e acometer qualquer órgão do corpo humano. Na mulher, de acordo com o INCA, estima-se que, em 2019, predominem os tumores de pele (86 mil), mama (59 mil), intestino grosso (19 mil) e colo de útero (16 mil). Já nos homens, estima-se a prevalência, também, do tumores de pele (88 mil), próstata (68 mil), pulmão (18 mil) e intestino grosso (17 mil).
Como prevenir
Diante desse cenário, à primeira vista parece ser uma tarefa impossível prevenir e diagnosticar o câncer precocemente no Brasil. Utopia, pensarão alguns apressadamente. A principal causa de câncer é o consumo de tabaco. Por um lado, temos um dos programas anti-tabaco de maior sucesso no mundo. Por outro,é necessário manter e incrementar medidas cada vez mais poderosas, já que a indústria tenta ludibriar, particularmente, os mais jovens, com cigarros eletrônicos, narguilé, cigarros naturais de palha, etc.
O consumo de bebidas alcoólicas é também importante e tem que ser combatido com mais vigor, já que surgem novos estímulos ao consumo frequentemente. Até para tentar emagrecer tem-se usado álcool, uma novidade bizarra chamada drunkorexia. Outro fator muito significativo é a proteção contra a exposição excessiva ao sol diariamente.
As outras medidas importantes são uma dieta adequada com vegetais, fibras e menos carne e gorduras associada à prática regular de exercícios físicos. Com isso, seria possível prevenir a maioria dos cânceres! Muitos podem pensar que é modismo, mas não é. É prática médica baseada em evidência.
Diagnóstico precoce é possível
Diagnosticar câncer cedo é possível. A redução tanto da incidência como da mortalidade por câncer de colo uterino deve-se ao esclarecimento das mulheres e da disponibilidade de exames preventivos na maior parte dos centros urbanos e até mesmo em zonas rurais. Campanhas frequentes com respeito ao câncer de pele e de próstata também têm resultado em maior precocidade do diagnóstico.
No entanto, para outros tumores o sucesso é menor, quer pela timidez das medidas, quer pelo alto custo que seria implantar programas, como realizando tomografias de tórax em fumantes ou endoscopias digestivas. Este último exame, aliás, reduziu drasticamente a mortalidade por câncer de estômago no Japão, país que apresenta as maiores taxas de incidência no mundo. Não se pode esquecer do crescente papel das vacinas contra hepatite e HPV. Elas são eficientes na prevenção de câncer de fígado, câncer de colo uterino e alguns tipos de câncer de garganta.
Todas as medidas sugeridas para prevenir ou diagnosticar precocemente o câncer dependem de informação e de acesso aos meios adequados. Essas medidas requerem esforços contínuos tanto de órgãos governamentais como de toda a sociedade. Não existem medidas simples e muito menos uma pílula mágica para prevenir ou tratar o câncer. Somente com conhecimento e estratégias permanentes e adequadas, com destaque para a educação em saúde, poderemos reduzir o risco de ocorrência da doença. Também com medidas educacionais persistentes e com crescente disponibilidade de acesso a exames preventivos para populações de maior risco, poderemos diagnosticar precocemente.
Mas, enquanto isso não estiver disponível a toda a população, tanto a sociedade quanto os profissionais da saúde devem aprender ou reforçar o conhecimento valorizando os sintomas iniciais da doença. Hoje, os fatores mais associados a diagnósticos tardios são o desconhecimento e a falta de acesso à informação. A ignorância, este grande inimigo, faz com que cânceres que poderiam ter sido prevenidos e tratados precocemente sejam tratados com combinações de cirurgia, radioterapia e quimioterapia e, ainda assim, com menos chances de cura.
Estes são graves problemas que requerem uma grande mobilização visando informar a população e estimular a adoção de hábitos de vida saudáveis e alertar para a valorização de sintomas mínimos que persistam por mais de duas semanas. Este trabalho requer ações coordenadas de governos, organizações não governamentais, mídia, sociedades e de todos os profissionais da saúde.
Quem faz Letra de Médico
Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
Antônio Frasson, mastologista
Artur Timerman, infectologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Eduardo Rauen, nutrólogo
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Ludhmila Hajjar, intensivista
Luiz Rohde, psiquiatra
Luiz Kowalski, oncologista
Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
Marianne Pinotti, ginecologista
Mauro Fisberg, pediatra
Miguel Srougi, urologista
Raul Cutait, cirurgião
Roberto Kalil, cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
Salmo Raskin, geneticista
Sergio Podgaec, ginecologista
Fonte: Veja