Candidato à presidência do Benfica, Rui Gomes da Silva, 61, é um grande crítico à gestão de Luis Filipe Vieira e ao contrato oferecido a Jorge Jesus. Não são poucas as declarações do advogado questionando os valores da contratação do ex-técnico do Flamengo, movimento considerado um “ato desesperado” por parte da diretoria. Ao GLOBO, ele explicou suas ponderações, admitiu que o Mister não seria a sua escolha para o cargo e não acredita que atletas rubro-negros sejam contratados. O pleito está marcado para outubro.

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Você classificou a contratação de Jesus como “um ato de desespero”. Por que?

Tem relação com o Benfica e com o atual projeto. São ações e atitudes. Lembraria de três momentos. Jorge Jesus não foi correto com os sócios do Benfica, chegou a dizer que “sabia como lá se ganhava” e até poucos meses, o presidente disse que Jesus nunca mais estaria no clube. No atual cenário, o presidente está sendo acusado por todos os lados. Por questões pessoais e por questões do Benfica. No ano em que o Benfica poderia fazer história e ser pentacampeão, ele investe 9 milhões de euros em reforços. No ano em que está em risco a sua reeleição, contrata um treinador que custa 26,5 milhões de euros, enquanto o outro treinador custava 1 milhão de euros. Se isso não é um ato de desespero, me explique o que é.

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Então Jesus não seria a sua escolha para treinador?

Não, não. Já o disse muitas vezes, não seria o Jesus. Pelas atitudes que teve com o Benfica. Não era muito tempo que Jesus cantava músicas que insultavam o Benfica. Há videos disso, não estou inventando. Não há 20 anos, há dois anos. Eu acho que o Jorge Jesus de 2020 não tem a nada ver com o de 2009/2010. Antes, ele precisava do Benfica para crescer, para ser o treinador de um grande clube. Hoje, ele já foi campeão, já ganhou no Flamengo e está com outro currículo. O presidente do Benfica espera que ele seja o que encontrou em 2009/2010.

O Benfica tem alguma condição de contratar Bruno Henrique, Gerson ou Willian Arão?

É um mistério, mas do que conheço do Benfica, não há dinheiro para isso. Acredito que o Benfica crie dívidas para contratar os jogadores. Daquilo que conheço do presidente, ele não costuma dar esses bons jogadores ao Jesus, assim como não deu ao Bruno Lage ou ao Rui Vitória. Mas acredito que chegue o Lucas Veríssimo (do Santos), que é um bom zagueiro.

Jorge Jesus e Luiz Flipe Vieira, presidente do Benfica Foto: Reprodução
Jorge Jesus e Luiz Flipe Vieira, presidente do Benfica Foto: Reprodução

Qual a sua relação pessoal com Jorge Jesus?

Nunca tive nenhum problema pessoal com ele. Fui vice-presidente durante sete anos e vivi seis anos e meio com Jesus. Nunca tive nenhuma relação especial. Falei duas ou três vezes com ele. Viajei para lá e para cá com ele. Mas, de resto, nunca tive uma relação especial. Entendo que dirigentes tem que ter uma relação de respeito, cordial e dar todas as condições para que tenham êxito. Mas não precisam ser amigos, ir jogar cartas com eles. Para voltar a ser grande na Europa, o Benfica precisa ter outra dimensão e outras diretrizes.

A forma como ele saiu do Benfica para o Sporting tem influência nisso?

O atual presidente disse que ele não correspondia. Não foi Jorge Jesus que quis ir embora, ele achou que o modelo de plantel e de formação [de elenco] não estava com ele. Jesus tem um paradigma de atletas experientes, não queria atletas da base para formar o elenco. Quem achou que o tempo dele estava esgotado foi o atual presidente. O que eu acho lamentável foi o que o Jesus disse do Benfica quando estava no Sporting. Acho que ele desrespeitou o Benfica. Há a expectativa de que o Benfica volte a jogar melhor. Há um mês, o atual presidente disse que o treinador (Bruno Lage) era perfeito para o projeto. E o mandou embora.

Caso eleito, o manterá no clube?

Tenho que ver. Nesta primeira fase, direi que cumprirei os contratos. Mas tenho que pensar no Benfica. É um contrato de 26,5 milhões de euros. O Benfica terá muita dificuldade financeira nos próximos anos. Tanto que busca soluções para pagar o Pedrinho (ex-Corinthians), querem diminuir o preço. O Yony [González] foi uma compensação para o Pedrinho ficar mais barato, por exemplo. O problema é que o Benfica tem um contrato de 26,5 milhões de euros para Jorge Jesus por três anos. Por esse valor, eu vou buscar os melhores treinadores do mundo. [José] Mourinho, [Pep] Guardiola, [Carlo] Ancelloti, os tops dos tops.

Esse valor é apenas para Jesus ou para toda a comissão técnica?

Penso que é a comissão técnica inteira. Ouço falar de 24 milhões de euros garantidos para o Jesus, então deve ser 2,5 milhões para a comissão técnica. É um valor muito grande para o futebol português e em um mundo pós-Covid. Quem faz um contrato desses está desesperado.