Foram 27 dias desde que a bola rolou para o Flamengo x Bangu, no Maracanã, até o apito final do Fla-Flu que confirmou o rubro-negro como campeão carioca de 2020. A questão que fica é: valeu a pena?
Como primeiro torneio do país retomado desde a paralisação por causa do coronavírus, em 16 de março, o estadual do Rio reservou brigas entre dirigentes, guerras jurídicas, decretos da Prefeitura, fim de relações comerciais e um protocolo de saúde posto à prova.
Seguindo a tônica das reuniões da Federação de Futebol do Rio (Ferj), há uma divergência sobre o saldo econômico, político e esportivo da realização do Carioca no período determinado.
De um lado, Fluminense e Botafogo, contrários à retomada no momento em que ocorreu. Ambos viraram alvo de processo da Ferj, que cobra indenização pelas críticas em um manifesto. Do outro, os demais clubes, como Flamengo, Vasco e os pequenos, amparados pela entidade presidida por Rubens Lopes. O Estadual, conforme decisão de momento da Justiça Desportiva, nem rebaixados teve.
? O Carioca foi notícia pelo açodamento injustificado no auge da crise sanitária de absurda letalidade. Péssimo exemplo de condução, seja pelo planejamento em desconexão com a realidade ou por desrespeito a filiados ? disse o presidente do Botafogo, Nelson Mufarrej.
O presidente do Flu, Mário Bittencourt, foi na mesma linha e enviou ao GLOBO um tríplice “não? à pergunta se o estadual 2020 valeu a pena nas esferas esportiva, política e financeira.
No Flamenfo, há satisfação pela liderança política em prol da retomada dos jogos com portões fechados. “Flamengo bicampeão. Não teve treino clandestino, ninguém ficou doente, a MP foi ótima? publicou no Twitter o vice geral Rodrigo Dunshee de Abranches.
Na questão sanitária, o argumento rubro-negro é que não houve contaminação em massa entre atletas. Os testes pré-rodada detectaram três casos no Volta Redonda, um no próprio Fla (João Lucas) e outro no Flu (Wellington Silva).
Nas primeiras baterias de exames, após o período de quarentena dos jogadores com as respectivas famílias, o Vasco detectou 16 jogadores contaminados. No Botafogo, foram cinco. O Flu teve o meia Nenê. No Flamengo, foram nove atletas em contato com o vírus. Isso tudo sem contar demais funcionários.
? Os atletas já estavam muito incomodados e quando sentiram a segurança do protocolo, eles cobraram o retorno. O resultado mostrou que o caminho foi corretamente traçado. Tivemos poucos casos de contaminação e, nos poucos que tivemos, o protocolo mostrou sua eficiência ? disse Flávio Horta Júnior, vice-presidente do Volta Redonda.
Concluída a competição, entra a perspectiva esportiva. Para os críticos, como os botafoguenses, o fato de o Brasileirão só começar em 8 de agosto é um argumento para criticar o timing da volta.
? Temos pela frente um abismo físico, uma lacuna no calendário que teremos que ocupar com amistosos, enquanto adversários chegarão no Brasileiro com o programa físico em evolução ? completou Mufarrej.
Por outro lado, Alexandre Campello, presidente do Vasco, entende que é “muito importante para a equipe estar treinando?, embora sem jogos oficiais no curto prazo
O Carioca termina sem contrato de transmissão. O vínculo com a Globo iria até 2024. A emissora rescindiu por entender que teve o acordo violado, após o Flamengo passar o jogo contra o Boavista, pela Taça Rio. Sem contrato com a TV, o rubro-negro se valeu da MP 984. O recebimento da cota de TV era um dos motivos pelos quais os clubes apoiaram a retomada.
? No aspecto financeiro, que para o Volta Redonda nunca foi o principal motivo do retorno, também acabou ajudando os clubes, pois os pagamentos que restavam do Carioca estavam condicionados ao retorno ? pontuou Horta, do Volta Redonda.
O compromisso financeiro foi mantido pela emissora, apesar da rescisão. O futuro, no entanto, impõe um desafio, na visão do Botafogo:
? E os patrocinadores? Como ficam vendo um torneio desse nível? Como vender isso lá na frente?
Fonte: O Globo