Em meio a um Maracanã vazio, a mensagem “Lutem até o fim? serviu como inspiração aos jogadores do Fluminense, que não puderam receber o incentivo da torcida durante o Fla-Flu. Ao fim do jogo, ela resumiu o sentimento dos tricolores com a conquista da Taça Rio após tantas brigas nos bastidores. Não é de hoje que a faixa acompanha o time. Mas, nesta quarta, pareceu ecoar mais forte.
Os oito metros de tecido branco com letras que se alternam entre o vermelho e o verde viraram uma espécie de amuleto para a torcida. Criada em 2009, durante a campanha marcada pela arrancada que livrou a equipe do rebaixamento no Brasileiro, a faixa presenciou os episódios mais marcantes da história recente do clube ? da fuga da Série B ao Fla-Flu da pandemia.
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Seu criador, o professor de educação física Lauro Cernicchiaro não lembra de cabeça quantas partidas a faixa participou. Mas guarda tudo num caderno: fotos, recortes de jornais e tabelas de campeonatos. O álbum está aos cuidados do Fluminense, que prometeu devolvê-lo com o autógrafo do ídolo Fred.
A faixa também está com o clube. Só que em definitivo. É que, há duas semanas, Cernicchiaro doou seu amuleto. Desde a volta do Carioca após a paralisação provocada pela pandemia de Covid-19, está em todos os jogos.
? Ela já estava na minha casa há 11 anos. Estava numa sacola no armário. Não tinha sentido ficar guardada. Entrei em contato com o clube e disse que estava com vontade de doar, mas não queria que ela caísse no esquecimento. Queria que fosse lembrada. E eles abraçaram a ideia ? conta.
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A Taça Rio foi apenas mais uma para o currículo da faixa, que esteve nas arquibancadas na conquista do Brasileiro de 2010 e, embora não tenha estado no jogo do título, acompanhou a campanha também vitoriosa em 2012. A partida que confirmou a permanência na Série A, em 2009, contra o Coritiba, também está nesta lista. Mas, barrada na entrada do Couto Pereira, ficou do lado de fora. A julgar pela briga generalizada da torcida paranaense, foi melhor para ela.
A faixa rodou o país. Conheceu, por exemplo, o Independência (Belo Horizonte), a Fonte Nova (Salvador), o Beira-Rio (Porto Alegre) e os paulistas Morumbi, Arena Corinthians e Arena Palmeiras. Sua fama de pé quente a permitiu ultrapassar o limite das arquibancadas. Em 2009, foi amarrada no vestiário do Maracanã na final da Sul-Americana, contra a LDU. Mas, aí, não trouxe a mesma sorte, já que o título ficou com os equatorianos.
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Outro momento de apreensão foi na vitória sobre o Bahia, na última rodada do Brasileiro-2013, que marcou o quase rebaixamento do clube (escapou graças às punições sofridas por Flamengo e Portuguesa). Ali, a faixa passou por apuros: foi roubada pela torcida baiana e recuperada graças à ajuda da polícia.
? Iam queimá-la ? conta Cernicchiaro, que decidiu, então, aposentá-la.
Ao receber o presente, o Fluminense entendeu que a faixa poderia cumprir dois objetivos. O primeiro, fazer parte das comemorações dos 10 anos do Brasileiro de 2010 (tema do próximo livro a ser lançado pelo clube). O segundo, usar sua mensagem como apoio a luta dos jogadores, do próprio clube em suas disputas fora de campo e até mesmo de quem resiste à Covid-19. Mais apropriada, impossível.
Fonte: O Globo