Desta vez o entorno do Maracanã não teve qualquer alteração de rotina. Não houve aglomeração, protesto a favor ou contra o jogo no estádio cujo complexo abriga um hospital de campanha. Talvez seja um sinal de que o Rio, de volta às ruas de forma desordenada, um tanto anestesiado diante das mortes, normalizou o fato de que aqui se joga futebol.
Mansur:Protestos nos estádios refletem polarização das ruas
O Flamengo mudou seu uniforme, incorporou o patrocinador novo e uma menção à TV do clube nas mangas. Mas ainda não foi dessa vez que um sinal de luto, uma menção às vítimas ou uma mensagem aos profissionais de saúde ganhou espaço. O clube fez ações em comunidades, distribuiu material de proteção e alimentos. Mas no momento nobre, em que o jogo poderia ao menos ser veículo para mensagens de solidariedade ou de empatia, nada parece poder se interpor entre o clube e seu único objetivo: ganhar.
E já que nada mais importa, tudo corre bem neste Flamengo, que fez 2 a 0 no Boavista e garantiu a melhor campanha do Estadual. Terá a vantagem do empate na semifinal da Taça Rio e, se ganhar o turno, será bi do Carioca. A melhor face deste Flamengo se exibe no campo. Como se o clube fosse um grande paradoxo: é frio e pragmático nos gabinetes; quando a bola rola, é expansivo, criativo, alegre. Obsessivo pelo gol. Bonito de ver.
O Maracanã viu um monólogo de futebol. Mais um dos tantos que este time de Jorge Jesus protagoniza. Eram jogadores, ideias de jogo, modelos táticos de classes distintas de um lado e de outro. A pressão que o Flamengo exerce para recuperar logo a bola no campo de ataque fazia com que o Boavista sequer conseguisse jogar, sair de seu campo.
Ranking:Os 30 maiores ídolos da história do Flamengo
A mobilidade rubro-negra combinada com a estratégia de marcação do time da Região dos Lagos, que fazia defensores perseguirem os adversários, abria espaços em série. Everton Ribeiro e Arrascaeta partiam dos lados para o meio, moviam defensores, assim como fazia Bruno Henrique. Era questão de tempo o gol que só saiu aos 35 minutos. Nele, um detalhe: quando Rafinha cruzou, havia cinco jogadores do Flamengo na área e Elivélton, que perseguia Pedro, não reagiu a tempo quando o atacante infiltrou às suas costas. Foi o quarto gol de Pedro pelo Flamengo.
Arão e Gerson mandavam no meio-campo e este último protagonizou o lance mais bonito do jogo, um chute com violência e precisão no ângulo de Kléver, no início da segunda etapa.
70 anos do Maracanã:Os 10 maiores jogos do Fla no estádio
O chute chama atenção, mas encobre um traço de identidade deste Flamengo. Arrascaeta, um dos mais talentosos, inicia tudo ao correr atrás de um adversário para fazer um desarme no campo de ataque num jogo controlado contra um rival bem mais fraco. O uruguaio ainda organizou a jogada do gol.
Jorge Jesus usou o segundo tempo para fazer as cinco substituições e dar minutos de jogo ao elenco. Mudaram nomes, não a produção industrial de chances. Michael, que perdeu três, quase marcou em belo voleio.
O futebol brasileiro parou por três meses e há traços atípicos em tudo o que se vê nesta volta. Mas o Flamengo não parece ter perdido seu padrão.
FLAMENGO 2 X 0 BOAVISTA
Flamengo: Diego Alves, Rafinha, Rodrigo Caio, Léo Pereira e Filipe Luís; Willian Arão (Thiago Maia), Gerson (Diego) e Everton Ribeiro (Michael); Bruno Henrique, Pedro (Vitinho) e Arrascaeta (Pedro Rocha).
Boavista: Klever, Everton Silva, Douglas Pedroso, Elivelton e Jean Victor; Fernando Bob (Victor Pereira), Vitor Faiska e Tartá (Renan Donizete); Jefferson Renan, Michel (Luiz Araújo) e Romarinho (Luis Felipe).
Gols: 1T: Pedro, aos 35 minutos; 2T: Gerson, aos 5 minutos.
Árbitro: Rodrigo Nunes de Sá.
Cartões amarelos: Jean e Thiago Maia.
Público: Portões fechados.
Local: Maracanã.
Fonte: O Globo