Os médicos dos clubes do Rio realizaram uma conferência pela internet com a Ferj e algumas autoridades sobre a volta do público aos estádios, a partir das 19h desta terça-feira.
De antemão, parte deles já se declarou contrária, e achou a medida da prefeitura precipitada. No debate, a grande maioria também não esteve a favor. Nenhuma data adiante ficou estabelecida.
No entanto, foi discutida a necessidade de elaboração de um protocolo complementar ao atual, para os jogos com a torcida no estádio, mesmo que não se saiba quando isso acontecerá.
Clubes que elegeram médicos para elaborarem os protocolos sem público, Flamengo, Vasco, Boavista e Botafogo foram contra o retorno. Botafogo e Fluminense já haviam se declarados contrários.
O Flamengo entende que é preciso ter viabilidade em termos de segurança, o que ainda não é o caso. E concordou com o início dos estudos para o retorno.
Segundo decreto do prefeito Marcello Crivella, os estádios poderiam receber um terço da capacidade a partir do dia 10 de julho. Mas a data não é certa.
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Os profissionais responsáveis pela elaboração do protocolo Jogo Seguro entendem que abrir a possibilidade de torcida no estádio neste momento é dar passos atrás nas medidas já colocadas em prática no Campeonato Carioca.
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“Se liberarem o público o protocolo não faz mais sentido, vai por água abaixo”, diz um dos médicos à reportagem.
O entendimento de outro especialista de clube é que as medidas cabem aos órgãos de saúde do município, mas a liberação do público não chegaria em boa hora e poderia atrapalhar o controle entre jogadors e funcionários.
A administração do Maracanã também foi convocada para debate para realização de uma nova fase do protocolo, que não deve ser aplicada a tempo da conclusão do Campeonato Carioca.
A empresa que administra o estádio aguarda os parâmetros de distanciamento das autoridades para definir qual seria o público permitido dentro da proporção de um terço da capacidade. Hoje, ela seria entre 12 e 15 mil.
Além dos representantes dos clubes, foram convocados para o debate membros da Secretaria Municipal de Saúde e da Sub-Secretaria de Vigilância Sanitária, para traçar diretrizes que possam ser viabilizadas quando forem necessárias.
Prefeitura recua
A volta do público aos jogos de futebol no Rio de Janeiro ainda não esta garantida para o dia 10 de julho. O prefeito Marcelo Crivella afirmou nesta terça que a liberação para esta data não implica numa imediata abertura dos estadios de futebol. Segundo ele, fatores como os impactos no sistema de transportes e na própria segurança pública serão avaliados, assim como a opinião da população a respeito do tema.
– Queria só esclaracer que uma coisa é o conselho científico determinar uma data de liberação. O prefeito não é autorizado a fazer a abertura antes dessa data. Mas eles me autorizam a fazer depois. Porque entendem que o prefeito tem que avaliar a área de transportes, de segurança e como a população recebe estas medidas. Isso é uma avaliação política. E é isso que estamos avaliando agora. O conselho diz dia 10. Mas não quer dizer que vai ser dia 10 – afirmou Crivella, em coletiva realizada nesta terça-feira.
O que diz o manual da Vigilância Sanitária
15.2 – Competições Desportivas em Estádios
Para a realização das competições desportivas em estádios deverão ser observadas as Regras de Ouro e as medidas de prevenção à Covid-19 estabelecidas para os Centros de Treinamento, acrescidas das recomendações específicas para as atividades e os equipamentos utilizados, conforme descrito a seguir.
15.2.1 Orientações Gerais
1. O responsável pelo evento deverá promover capacitação interna referente às medidas de prevenção à Covid-19, extensiva ao staff e a toda força de trabalho, como equipe de limpeza, seguranças e recepcionistas.
2. Promover a orientação do público em geral sobre a importância da adoção das medidas de prevenção à Covid-19.
3. Informar antecipadamente o órgão sanitário competente sobre o calendário e planejamento das competições programadas.
15.2.2 Venda de Ingressos
1. As vendas deverão ser realizadas de forma 100% on-line, sem bilheteria no local.
2. Deve ser respeitado o distanciamento mínimo de dois metros entre as pessoas, sendo facultada a ocupação de integrantes da mesma família em assentos ou lugares próximos.
3. Para evitar o cruzamento do fluxo de pessoas, é recomendado o escalonamento de horários de acesso ao evento, conforme o número do assento ou mesa. Deve ser feita a divisão por grupos, de acordo com o público.
4. Os camarotes e as áreas VIP somente poderão funcionar obedecendo rigorosamente ao distanciamento mínimo de dois metros ou quatro metros por pessoa, reduzindo a lotação interna e adotando as medidas protetivas contra a Covid-19.
15.2.3 Sinalização
1. É recomendado o uso de sinalização e marcações no chão para reforçar o distanciamento mínimo social de dois metros nas diversas áreas do evento, como entradas, pontos de informação, bares, postos de segurança e sanitários. Caso necessário, utilizar vidros protetores, divisórias e demais barreiras físicas para a separação.
2. Reforçar em indicadores visíveis as informações relativas ao uso obrigatório de máscaras, o respeito às filas e demais condutas que devem ser adotadas pelos participantes do evento.
3. Delimitar os setores das arquibancadas, mesas, cadeiras que estejam fechados.
15.2.4 Acesso ao Estádio
1. Seguir o escalonamento de horários estabelecido nos ingressos vendidos. Não permitir o acesso de pessoas fora do horário determinado.
2. Promover a ocupação de assentos em fila ordenada, preferencialmente do último para o primeiro, sendo necessária a orientação do público por funcionários capacitados para tal atividade.
3. Não permitir o acesso ou a permanência de pessoas sem máscara em nenhum dos ambientes do evento, salvo no momento do consumo das refeições.
4. O distanciamento social mínimo de dois metros deve ser respeitado em todas as áreas comuns de circulação, como corredores, hall de elevadores e outros.
5. Estabelecer controle e escalonamento de horários para entrada e saída de staff, força de trabalho, fornecedores e público em geral, evitando a formação de aglomeração e cruzamento de fluxos.
6. É recomendado o uso de sistemas de leitura QR Code ou outro meio digital para o acesso de público e de veículos na área do evento.
Nota da Ferj sobre o assunto
A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro teve ciência da fase 3 de flexibilização do Governo Municipal referente às medidas restritivas e, no momento, ainda não dispõe de dados em que possa se basear para opinar sobre a viabilidade imediata da realização de jogos de futebol com a presença de público.
Entende que em algum momento, embora ainda não definido na prática, tal situação deverá vir a se concretizar e para tanto torna-se fundamental um debate, em razão da complexidade do tema, em que possam ser analisadas as diversas variáveis que fazem parte das operações de jogo, com a participação das várias instituições envolvidas no evento (Transporte Público, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Guarda Municipal, Controle Urbano, Secretarias de Saúde, dentre outras…).
E não apenas clubes, federação e estádios, de modo à elaboração de um protocolo e planejamento de ações e contingências com os objetivos de segurança à saúde individual e coletiva, prevenção e combate à disseminação da Covid-19.
Nesta data, a FERJ tem agendada uma reunião preliminar com os médicos dos clubes e representantes da Secretaria Municipal de Saúde e da Sub-Secretaria de Vigilância Sanitária para ouvir desses órgãos subsídios que permitam estudos, na área médica, para que sejam delineadas as diretrizes que possam ser viabilizadas e seguidas quando forem necessárias.
Por questões temporais, face à proximidade do término das partidas do Campeonato Carioca, as conclusões do estudo devem contemplar as competições nacionais, motivo pelo qual a inclusão da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) nos debates torna-se fundamental.
Fonte: O Globo