Criticado pelos altos custos depois de sua reforma, a estrutura do Maracanã é uma das armas do Flamengo para tentar provar seu ponto sobre a segurança da volta do futebol. Mesmo que, para isso, o clube tenha que arcar com o prejuízo financeiro que os jogos sem público podem causar. O clube pagou R$ 152 mil para enfrentar o Bangu na única partida desde o retorno, mesmo sendo visitante, em função de um acordo previsto no regulamento do Campeonato Carioca. O rubro-negro bancará o borderô na partida contra o Boavista, quarta-feira, da qual é mandante, mesmo com a possibilidade de usar um estádio menor e com custos mais baixos na ausência de sua torcida.

Outro prejuízo que o clube resolve arcar ao jogar no estádio, além do financeiro, é o de imagem em meio à pandemia que já vitimou 53.874 pessoas no país. O Hospital de Campanha do Maracanã segue funcionando ao lado do estádio, e durante as partidas. A Secretaria Estadual de Saúde confirmou que os eventos do Flamengo não prejudicam o trabalhos dos profissionais de saúde, mas o símbolo de se jogar futebol ao lado de um local onde morreram duas pessoas no dia do jogo contra o Bangu e outras quatro no dia 14, quando o Flamengo fez uma live beneficente no estádio, incomoda parte da torcida e os rivais. O Fluminense, parceiro do rubro-negro na gestão do estádio, inclusive, pediu para que seu jogo fosse transferido para o Nilton Santos por esse motivo.

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Outras alternativas eram possíveis. Após a pandemia, houve adaptação no regulamento do campeonato. Foi incluído no texto que “havendo necessidade de estádios com portões fechados e impedimento da presença de público, as partidas poderão ser realizadas em qualquer estádio aprovado pelo DCO e que atenda as condições de protocolo sanitário aprovado pelos clubes?. Apesar de o protocolo da Federação de Futebol do Rio aceitar jogos sem torcida em qualquer palco autorizado, o Flamengo descartou as opções que tinha, como a própria sede da Gávea, ou ainda o estádio da Portuguesa, na Ilha do Governador.

Segundo médicos de outros clubes que participaram da elaboração do protocolo, a Gávea não teria as condições ideais para adequar os jogos da melhor maneira. No próprio Flamengo, funcionários com experiências em jogos na sede desaconselharam a ideia por acharem o espaço acanhado para circulação de pessoas perto do campo.

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O clube também preferiu não atuar nos dois estádios maiores que têm a preferência do protocolo ? Nilton Santos e São Januário. A escolha foi técnica, não financeira, segundo apurado junto à diretoria.

Quatro vestiários

O objetivo é manter o nível de controle que já é feito no Centro de Treinamento Ninho do Urubu. A elaboração dos primeiros testes após a partida, ontem, no CT, deu força à estratégia no Maracanã, já que o Flamengo segue sem nenhum contaminado com Covid-19, entre atletas e funcionários.

Segundo um dirigente do clube, o Flamengo preparou a estrutura para as questões sanitárias e de segurança no Maracanã, e “tudo funcionou bem”.

“A estratégia deu certo, todos negativos depois do jogo?.

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Diferente da Gávea, com vestiários pequenos e apenas um acesso ao campo, acanhado, o Maracanã possui um túnel central mais largo, e ainda oferece a possibilidade de entrada das duas equipes alternadas, cada uma por uma lateral do gramado. O protocolo recomenda tal prática, ou a divisão do túnel central para entrada de um time por vez. No jogo entre Boavista e Portuguesa, na Ilha, foram entradas separadas também, mas por túneis menores.

No Maracanã, os elencos de Flamengo e Bangu ficaram com dois vestiários cada, diminuindo o número de pessoas por área. O limite máximo são 32. Mas em estádios menores, o protocolo pede adaptações. Além de vestiários maiores e melhores, o Maracanã oferece entrada distintas para delegações, funcionários e quem vai trabalhar no jogo, sem cruzamento no percurso.

Por ser muito maior, o estádio naturalmente tem contas mais caras. O aluguel custa R$ 30 mil. As operações em geral totalizaram R$ 56 mil na partida de reestreia. O consumo das áreas utilizadas chegou a R$ 45 mil. No estádio da Portuguesa, o prejuízo para os donos da casa contra o Boavista foi de apenas R$ 500.

Segundo o artigo 46 do regulamento, o resultado financeiro da partida, apurado em borderô, será todo do clube que tiver o mando de campo, exceto quando houver a participação de qualquer um dos chamados clubes grandes. Nessa circunstâncias, normalmente o lucro do jogo fica dividido com 60% para o vencedor e 40% para o perdedor e, havendo empate, 50% para cada clube. Mas tudo isso fica sujeito a um acordo firmado entre os clubes interessados e devidamente homologado pela Federação do Rio.

Segundo representantes do Flamengo, foi este o acordo que o clube fez com o Bangu, assumindo os custos para jogar como visitante em seu estádio. Contra o Boavista, o Flamengo é o mandante, mas assumirá as despesas também, pois em toda partida entre um grande e um pequeno o prejuízo, se houver, é do clube grande, segundo informou o próprio Boavista.