Foram 97 dias longe do Maracanã, pouco mais de dois meses sem treinos coletivos, novela para o fico do técnico Jorge Jesus e pressão pelo retorno do Carioca. Nesses mais de três meses, só uma coisa permaneceu: o Flamengo, com o time titular, venceu mais uma. Agora diante do Bangu, por 3 a 0, com gols de Arrascaeta, Bruno Henrique e Pedro Rocha, nesta quinta-feira, manteve a liderança do Grupo A e confirmou presença na semifinal da Taça Rio. Na última rodada, inicialmente marcada para a próxima quarta-feira, no estádio, o rubro-negro enfrenta o Boavista.
O público continua longe, no entanto. Assim como a última partida antes da paralisação por causa da pandemia do coronavírus ?vitória sobre a Portuguesa por 2 a 1 ?, o time enfrentou o Bangu com portões fechados. Apenas alguns poucos torcedores estiveram do lado de fora e formaram algumas aglomerações.
Uns para apoiar a chegada do ônibus do time; outros para protestar contra o presidente Jair Bolsonaro, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, e o retorno do futebol no momento em que o país se aproxima dos 50 mil mortes por Covid-19 (274 óbitos no estado do Rio registrados nas últimas 24 horas).
Mortes ao lado
O primeiro foi organizado por torcedores dos quatro grandes clubes do Rio, com faixas em prol da democracia e gritos de “Fora, Bolsonaro”. A polícia retirou os manifestantes do local sem violência. A outra partiu do grupo “Flamengo antifascista”, em ação que não demorou mais que cinco minutos.
O acesso ao interior do estádio, que só recebeu imprensa e funcionários diretamente ligados ao jogo, teve de ser reformulado. Afinal, na área do estacionamento ao lado do Célio de Barros foi construído um Hospital de Campanha pela prefeitura, que, no momento, tem internados na enfermaria e na UTI. A unidade, que teria 1.300 leitos, entregou 400 leitos para receber pacientes de Covid-19.
Um médico, que preferiu não se identificar, afirmou que o jogo não mexeu com a rotina dos funcionários, mas teme que o futebol faça com que as pessoas tenham menos cuidado no isolamento social. Ontem, dois óbitos do total de 8.412 do estado ocorreram na unidade ao lado do estádio.
Dentro do Maracanã, o protocolo de entrada acompanhou as medidas sanitárias determinadas pelas autoridades públicas: túnel de desinfecção, testes para funcionários, álcool gel, máscara e distanciamento nas entradas e nos poucos setores liberados.
Teve até minuto de silêncio, cumprido graças à falta de torcida, em homenagens ao massagista rubro-negro Jorginho, falecido em maio em decorrência da Covid-19, e do ídolo banguense Marinho, morto na última segunda-feira. As vítimas do coronavírus também foram lembradas no telão do Maracanã.
No gramado, no entanto, o Flamengo encurralou o time do Bangu, todo fechado, em seu campo. Por tanto tempo sem jogar, lógico que faltou ritmo de jogo. Mas a superioridade técnica do rubro-negro foi suficiente para ditar o ritmo da partida. Com certa facilidade nas jogadas pelas pontas, chegou até a linha de fundo e, num rebote, Arrascaeta abriu o placar aos 18 minutos. Sem abraços.
O gol do uruguaio, que havia marcado o último gol da equipe antes da paralisação, só foi ecoado nas arquibancadas vazias do Maracanã pelas vozes dos locutores de rádios presentes ao estádio.
Na volta do intervalo, os times perderam o gás e o jogo ficou mais aberto. Assim, o Flamengo conseguiu infiltrar Gabigol, que cruzou na medida para Bruno Henrique fazer o segundo. Gabigol de novo colocou na medida para Pedro Rocha marcar o terceiro e fechar o placar aos 43.
Num jogo, mais protocolar do competitivo, o Flamengo mostrou que saiu na frente dos demais.
(Colaborou Marcello Neves).
Fonte: O Globo