Pelé, Rivellino, Tostão, Jairzinho, Gérson. A coleção de talentos era de tirar o fôlego, e o resultado acabou sendo o esperado: Brasil campeão mundial.

Para relembrar o tricampeonato conquistado nos gramados do México, que completa 50 anos neste domingo, O GLOBO publica, diariamente, análises táticas detalhadas de cada partida daquela inesquecível campanha. Depois da vitoriosa estreia sobre a Tchecoslováquia e o duelo emocionante contra a Inglaterra, é vez de analisar o último jogo da primeira fase, contra a Romênia.

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Não são raras as associações entre o futebol atual e a exigência de que os meio-campistas joguem de área a área, dominem diversas facetas do jogo, do desarme à infiltração na defesa adversária, do passe ao chute. Pois há 50 anos, Clodoaldo fez tudo isso. Marcada por uma sinfonia de futebol nos primeiros 25 minutos, a vitória do Brasil sobre a Romênia, no dia 10 de junho, também pode ser lembrada como o dia em que o meio-campo teve um dono.

Pelé em frente ao goleiro Stearea Adamache na vitória do Brasil sobre a Romênia Foto: Erno Schneider / Agência O Globo
Pelé em frente ao goleiro Stearea Adamache na vitória do Brasil sobre a Romênia Foto: Erno Schneider / Agência O Globo

Duas baixas por lesão obrigaram Zagallo a mexer em três setores do time. Sem Gérson e Rivellino, o companheiro de Clodoaldo à frente da linha de zaga foi Piazza, que na Copa atuava como zagueiro. Fontana entrou na defesa e Paulo Cezar Caju foi mantido do lado esquerdo do ataque, posição que tinha Rivellino como titular. Assim, coube a Clodoaldo ser o meio-campista com mais chegada ao ataque, o que fez com absoluta maestria.

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No período em que a seleção massacrou os romenos, o camisa 5 do Brasil desarmou, apareceu na área para chutar, driblou, deu passes, ditou o ritmo. Deu uma pequena lição sobre como controlar um jogo. Com uma dinâmica e velocidade digna dos padrões atuais.

O Brasil fez o que, até ali, eram seus melhores minutos no Mundial também graças a outra alteração de comportamento. Num jogo em que teve, novamente, dois pontas pelos lados, Jairzinho se liberou mais de sua posição pelo lado direito e transitou pelo ataque. Foi um tormento constante para os romenos. Mais aberto à esquerda, Caju ora cortava para dentro buscando o chute de direita, ora ia ao fundo, como no lance do segundo gol, passe dele para Jairzinho atacar a área.

Pelé se estica para marcar na vitória do Brasil sobre a Romênia Foto: Erno Schneider / Agência O Globo
Pelé se estica para marcar na vitória do Brasil sobre a Romênia Foto: Erno Schneider / Agência O Globo

O Brasil recuperara sua dinâmica, rara para aqueles tempos, mesmo sem seu melhor organizador de jogo ? Gérson – e sem a mobilidade de Rivellino no setor ofensivo. Aliás, foi num lance lindamente iniciado por Clodoaldo que surgiram a falta e o gol de Pelé, abrindo o marcador. E por falar em Clodoaldo atacando a área, em breve voltaremos a este tema, mais precisamente na semifinal.

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Naturalmente o ritmo caiu. Pelo placar, pela vaga encaminhada nas quartas de final e pelo calor mexicano. A Romênia passou a jogar mais no campo ofensivo e a seleção exibiu outra face de seu repertório: a busca pelo contra-ataque, o que vinha a calhar numa formação com dois pontas. Por outro lado, no entanto, este tipo de jogo expunha o quanto o Brasil era, naturalmente, menos confiável sem a bola do que com ela. E também como Félix era tudo menos um goleiro imune a escorregões.

Dumitrache diminuiu ainda antes do intervalo, mas a rigor jamais houve a sensação de que a vitória estivesse perigando. Num jogo mais cadenciado na segunda etapa, houve tempo ainda para a joia daquela tarde: a cada jogo, este time brasileiro produzia um lance de videoclipe. Novamente coube à genialidade de Tostão a jogada da partida. Após cruzamento da direita, o toque de calcanhar surpreendeu a defesa romena e achou a conclusão de Pelé.

Jogadores da seleção brasileira comemoram o terceiro gol sobre a Romênia Foto: Erno Schneider / Agência O Globo
Jogadores da seleção brasileira comemoram o terceiro gol sobre a Romênia Foto: Erno Schneider / Agência O Globo

 

A cada jogo, aliás, Tostão e Pelé sincronizavam movimentos de forma mais admirável. Quando um buscava a bola atrás, o outro se aproximava para a tabela ou atacava o espaço na área. Questão de talento e inteligência de jogo.

A Romênia ainda marcaria de novo, em falha de posicionamento da zaga e numa saída equivocada de Félix. Menos mal que o talento permitia ao Brasil fazer mais gols do que concedia.

Ficha de Brasil 3 x 2 Romênia Foto: Arte O Globo
Ficha de Brasil 3 x 2 Romênia Foto: Arte O Globo

 

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