Assim que o árbitro encerrou o jogo em Presidente Prudente (SP), naquele 11 de novembro de 2012, a torcida do Fluminense explodiu na arquibancada. Na transmissão pela TV, Galvão Bueno berrava seu famoso “É tetra”. Em campo, contudo, a comemoração era contida. Os jogadores não sabiam que o Atlético-MG empatara com o Vasco e que a vitória por 3 a 2 sobre o Palmeiras, pela 35ª rodada (que a Globo reprisa hoje, às 16h), garantiria o título antecipado do Brasileiro. O fato pode até soar inusitado. Mas a verdade é que, naquele domingo, nada foi normal.
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A começar pelo clima da partida. O Palmeiras estava sob tensão. A caminho de seu segundo rebaixamento, os paulistas transferiram o jogo para o interior paulista como forma de evitar protestos violentos em caso de derrota.
Os tricolores sofreram no Prudentão. Além do vestiário não apresentar estrutura ideal, quem não tinha autorização para estar no campo precisou assistir ao jogo de uma cabine. Até aí, nada diferente do que ocorre no Maracanã. O problema é que, ao apito final, foram surpreendidos com o portão de acesso ao gramado trancado. Ele só foi aberto após receber muitos murros. Boa parte do estafe entrou já no fim da volta olímpica.
? A federação paulista trancou o portão. E a gente não tinha chave ? recorda Sandro Lima, vice de futebol à época. ? Acabou o jogo e vimos os jogadores agindo como se nada tivesse acontecido. Pedimos que abrissem a grade, mas não abriam.
Susto na volta
O maior susto, no entanto, ficou reservado para o voo de volta ao Rio. A maior parte da viagem foi marcada pela festa regada a música e ? muita ? cerveja. Até que, já sobre a capital fluminense, o piloto informou que a luz indicativa do acionamento do trem de pouso não acendia. Na dúvida se o problema era do monitor ou do sistema de aterrissagem, foi preciso executar o procedimento de pouso de emergência.
? Todo mundo estava brincando um com o outro. Gozações e provocações normais. Mas isso mudou quando o avião estava próximo de pousar. Percebemos uma certa apreensão por parte das aeromoças. Elas ficaram até mais nervosas que nós ? conta o lateral-esquerdo Carlinhos, hoje sem clube.
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A cantoria deu lugar ao silêncio. Principalmente quando a aeronave arremeteu. Com apenas as luzes de emergência acesas e todos em posição de impacto (abraçados aos joelhos), algumas orações puderam ser ouvidas.
? A partir daí, todo mundo começou a pensar ainda mais na família e nas pessoas que amava. Eu só era casado na época, não tinha filhos, mas fiquei bastante preocupado. Foi tenso. Não gosto nem de lembrar. Muitas pessoas achavam que os carros de bombeiro (no pista do aeroporto do Galeão) faziam parte da comemoração. Mas eles estavam ali caso acontecesse alguma coisa mais séria ? lembra o lateral.
Foi por medo de avião
Foi só um susto. Mas, para Abel Braga, não foi pouco. Com medo de avião, o técnico já havia destoado da festa no ar ao permanecer em silêncio durante o voo. Quando o imprevisto surgiu, recorreu ao terço que sempre o acompanha e começou a rezar. Em solo, desistiu de participar da festa na sede das Laranjeiras.
? Aquilo foi realmente uma loucura, o maior sufoco que já passei na vida. Deu um voo rasante, mais perto da pista, como se estivesse arremetendo, para que o pessoal em terra pudesse conferir se o trem de pouso estava ou não baixado. Esse foi o sufoco ? lembra Abel. ? Não fui para a comemoração porque, depois desse susto, só queria ficar com minha família.
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O voo de ida já havia sido marcado por uma curiosidade: para agradar o Fluminense, a operadora do voo envelopou o avião com o escudo do clube e quatro estrelas em alusão ao iminente tetracampeonato. A diretoria solicitou que os adesivos fossem removidos.
? Não era superstição. A gente ainda precisava de uma vitória. E futebol é imprevisível ? explica Sandro Lima.
De fato, não se notava um clima de “já ganhou”. Havia, sim, confiança. Apesar das 22 vitórias, pode-se dizer que o título nasceu em uma derrota: a eliminação para o Boca Juniors, nas quartas da Libertadores. Logo após a queda, os jogadores fizeram um pacto no vestiário de que não deixariam aquela frustração afetar o time no Brasileiro. E não deixaram.
Fonte: O Globo