Ao fim do segundo tempo, o Super Bowl 53 entre New England Patriots e Los Angeles Rams era um jogo de enorme disciplina defensiva e poucas emoções. Com um magérrimo 3 a 0 no placar, o pior de um intervalo desde 1975, o campo de Atlanta se tornou palco para o show do competente Maroon 5.
A lendária soulwoman Gladys Knight, 74 anos, já tinha oferecido ao público do estádio de Atlanta uma versão deliciosa do “Star-Spangled Banner”. Talvez seja dela o maior momento musical da tradicional final americana, já que, liderada pela voz profissa de Adam Levine, a banda de Los Angeles não foi mais do que competente. Em 2017, o Maroon 5 foi estepe o que Roberto Medina ofereceu ao Rock in Rio quando Lady Gaga cancelou seu agendamento. Por quê? Porque funciona.
Carregada de hits que se dividem entre o soul e o rock comportado, o Maroon 5 não é para marcar a história, mas dificilmente passa despercebida. Todo mundo já ouviu seus hits em algum lugar, seja no shopping, numa festa de casamento ou na trilha de “Senhora do Destino”.
O palco em forma de M se incendiou para uma sequência de hits que foram enfileirados num medley. Primeiro a roqueira e grudenta “Harder to Breathe”; depois “This Love”. Já é costume que DJs modernetes impeçam as músicas de chegar aos segundo refrão. O Maroon 5 endossar isso, como quase todo mundo faz no show do intervalo, soa algo irônico, porque mostra como a própria banda se vê: uma metralhadora de ganchos para bombar nos ouvidos, sem maiores consequências.
Antes da terceira, o Maroon 5 se viu reforçado por Travis Scott, que trouxe eletricidade até sumir em seus poucos segundos, atropelado por uma “Girls Like You” emoldurado por um coral gospel com falsetes estonteantes. Parecia um grande momento, sobretudo num Super Bowl boicotado por artistas negros, que protestaram contra o silencioso desemprego do quarterback negro Colin Kaepernick ? tornado persona non grata por Trump ao se ajoelhar nos hinos. Esperava-se uma reação da banda, que preferiu simplesmente ignorar tudo. Assim, sem um gesto, nada ficava marcante: era preciso passar ao hit seguinte, e veio “She will be loved”. Foi doloroso ver tantos sucessos se tornarem rapidamente insossos.
As dimensões do intervalo do Super Bowl são grandes demais para dar errado. São 15 minutos que artistas acostumados a contar 1 hora de história têm para resumir aquilo que fazem. O Maroon 5 trouxe um baile apressado e sem charme, encerrou o show antes de completar o tempo regulamentar – coisa de gente disciplinada demais – e deixou pouco na memória. “Sugar” e “Moves like Jagger” encerraram a fatura lembrando que hits até resolvem uma noite, mas não trazem a eternidade de momentos como Prince sob chuva, em 2007, e Lady Gaga política, em 2017. Foi competente, mas perdeu.
Cotação: razoável.
Fonte: O Globo