A quarentena no Rio ainda não tem data para acabar, mas as férias dos jogadores de futebol chegam ao fim amanhã. A situação tem deixado clubes e entidades do esporte em um fogo cruzado da política e obrigado dirigentes a escolherem um lado, mesmo que nos bastidores, entre o governo do presidente Jair Bolsonaro e o poder público local, em direções opostas sobre a necessidade de isolamento social.
A queda de braço é o pano de fundo para a tentativa de clubes, federações e a própria CBF fazerem valer seus interesses: o cumprimento do calendário e a obtenção das receitas dos patrocinadores. Mas muitas empresas ameaçam tirar o time de campo. Por isso, a CBF sofre pressão, tanto dos clubes como do Governo federal, para garantir as competições nacionais e estaduais.
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Nas conversas com alguns dirigentes, interlocutores do presidente Jair Bolsonaro indicam que a intenção é usar o futebol como modelo de que a abertura gradual da economia pode dar certo, desde que siga protocolos rígidos. Bolsonaro sugeriu ao governador do Distrito Federal que o Campeonato Carioca seja concluído em Brasília. Ibaneis Rocha (MDB) disse ao GLOBO que ‘há conversas em andamento’.
Diante disso, a CBF aprovou contrariada a volta dos treinamentos em maio, mas indicou que cada clube deve respeitar a autoridade local. A entidade faz o meio-campo e dialoga com governos estaduais através das respectivas federações. Com a Federação do Rio, houve rusgas depois da reunião virtual de terça-feira, quando o protocolo pioneiro da Ferj não foi considerado na última reunião médica da CBF.
A Comissão Nacional de Médicos do Futebol (CNMF), presidida por Jorge Pagura, já fez um manual para o retorno das competições, dentro do isolamento social, mas segurou a divulgação para não parecer que quer precipitar a volta em meio ao crescimento de mortes pelo coronavírus.
Ao lado de Flamengo e Vasco, a Ferj tenta sensibilizar o governador Wilson Witzel e seu secretário de saúde para que ocorra a liberação dos treinamentos. Mas evita a todo custo indicar que a pressa pelo retorno do Campeonato Carioca tenha a ver com discordar do isolamento social. Em coletiva na última semana, o presidente Rubens Lopes falou sobre a polarização.
? Nós trabalhamos com elementos técnicos, com subsídios científicos, com a segurança daqueles que vão participar da atividade. Vamos obedecer ordem de quem tem competência para dar essa ordem, independentemente de quem seja. Se o órgão competente for o municipal, vamos obedecer. Estadual e federal, a mesma coisa. Para nós é indiferente quem vai permitir ? disse Lopes, que é médico, mas pretendia retornar com o Estadual em maio.
Vozes dissonantes
No discurso do Governo federal, há alinhamento total ao Flamengo, que tem na figura do vice de relações externas Luiz Eduardo Baptista, o Bap, a linha de frente nas conversas com as entidades do futebol e o poder público. Bap é quem tenta articular o retorno o quanto antes, e encontra certa resistência até de integrantes do futebol do clube. Ao lado do presidente Rodolfo Landim, o vice-presidente quase convenceu o governador do Rio, Wilson Witzel, a liberar a volta aos treinamentos no dia 20 de abril, mas o crescimento dos casos de coronavírus no estado atrapalhou o pleito.
Vozes dissonantes, o presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, e o membro do comitê gestor do futebol do Botafogo, Carlos Augusto Montenegro, estão mais alinhados com a CBF, que não vê condições para determinar qualquer data de retorno das atividades.
A entidade se reúne quase diariamente em videoconferência com clubes, federações, secretários de saúde e com o Governo Federal, e quer evitar marcar um dia para a volta do futebol para depois voltar atrás.
Alguns clubes de fora do Rio, como o Corinthians, relatam à CBF que vivem grande dificuldade financeira, sem patrocinadores certos para a sequência da temporada, e que por isso esperam ansiosos pela volta dos jogos e das receitas que vêm com eles ? indo no caminho contrário ao discurso do governador João Dória, de São Paulo, que renovou as medidas de isolamento e é crítico feroz de Jair Bolsonaro.
Fonte: O Globo