A pandemia do novo coronavírus já provocou o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 para o ano seguinte, mas ainda assim o evento está ameaçado. O presidente do Comitê japonês, Yoshiro Mori admitiu na última terça-feira que o evento seria descartado se a pandemia não estiver controlada até a nova data. Em entrevista ao GLOBO, o especialista em megaeventos, Luciano Elias, afirma que o tempo é suficiente para o país se reorganizar para receber a Olimpíada, mas um novo adiamento não deve ser descartado.
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O brasileiro tem experiência como stadium maneger na Copa do Mundo de 2014 e também nos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Trabalhando no estádio Beira Rio, em Porto Alegre, e no complexo esportivo de Deodoro, no Rio de Janeiro, Elias coordenou mais de 40 áreas funcionais entre logística, planejamento e execução. Por dentro das últimas edições dos maiores eventos esportivos do mundo, ele atesta que o adiamento dos jogos não será tarefa fácil, mas o prazo curto não é um problema para o Japão.
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Inicialmente programados para acontecer no segundo semestre deste ano, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio foram transferidos para 23 de julho a 5 de setembro de 2021. A decisão foi tomada pelo governo japonês juntamente com o Comitê Olímpico Internacional (COI) no mês passado em função do vírus que já afetou as principais competições esportivas ao redor do mundo.
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O especialista formado em compliance e gestão de risco explica que, na prática, o país tem apenas oito meses para reorganizar os Jogos, mas a experiência com outros grandes eventos os auxiliaria no cumprimento do prazo. A maior ameaça portanto, é a pandemia, e Elias endossa a posição da Associação Médica do Japão, que coloca em dúvida viabilidade dessa edição da Olimpíada sem uma vacina contra o coronavírus.
Confira a entrevista completa com o gestor esportivo Luciano Elias:
Você acredita que o prazo de um ano é suficiente para a reorganização dos Jogos Olímpicos?
Um novo adiamento deve ser considerado, mas em virtude da pandemia, não do tempo. O Japão é um país que recebe etapas de circuito mundial de quase todas as grandes modalidades. Eles estão acostumados a receber eventos. É um país preparado para executar eventos. Se fosse um país que não tem um know how e a expertise, além do comprometimento do japonês, talvez o tempo seria curto. Mas sendo o japão eu não vejo o tempo como um problema. É muito trabalho para um ano. Três meses antes as equipes já estão entregando as instalações. Então na prática, são oito meses.
Qual vai ser o maior desafio para o Japão nesse processo?
Acho que na parte operacional eles vão bem. O maior desafio no período serão as renegociações contratuais. Mesmo sendo uma situação de comoção mundial por causa da pandemia, as negociações comerciais são muito duras, às vezes. Além disso, o impacto financeiro é muito grande
Quais tipos de problemas o adiamento de um evento tão grande pode gerar?
É muita coisa para ser feita, muito contratos para ser renegociados, além de toda uma questão de logística que terá que ser reorganizada. Muitas instalações já tinham outra função programada após o evento; foram cerca de 2 anos no processo seletivo para cerca de 80 mil voluntários, e muitos não poderão ir na nova data; muitos credenciamento de imprensa que ser refeitos; contratos de energia, lógica, iluminação, uniformes, 1 milhão e 200 mil diárias de hotel e 45 mil tickets aéreos para serem renegociados.
Além disso, as pessoas que trabalham nesses megaeventos estão costumadas com ciclos de trabalho. Muitos deles já fariam a migração para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, e muito provavelmente não vão poder ir por ter uma relação com o Japão.
Outra questão importante que precisa ser levada em conta é o ciclo dos atletas de alto nível e de suas confederações nacionais. Para esses eles, um mês pode fazer um diferença absurda.
Você listou uma série de desvantagens, mas a mudança nas datas traz alguma vantagem?
Talvez o Japão vai poder se planejar melhor sobre o legado estrutural, equipamento e conhecimento. Esse um ano pode ser um benefício sobre a gestão do legado que os jogos olímpicos deixa. Para o Brasil isso com certeza faria diferença.
Durante a crise do zika vírus antes do Jogos Olímpico do Rio-2016, alguma possibilidade de adiamento ou cancelamento foi levantada?
Duas áreas do comitê trabalham juntas para cuidar da segurança do trabalho e de sustentabilidade. Essas áreas fizeram contato com a secretaria da saúde, de meio ambiente e vigilância sanitária. Foram feitos trabalhos de esclarecimento e informação sobre cuidados a serem feitos sobre o zika vírus. Não se falou num possibilidade de adiamento. Em nenhum momento as pessoas que administraram esse tema cogitaram isso.
Fonte: O Globo