Apesar dos cerca de 40 dias sem bater ponto na sede da Conmebol por causa do isolamento social, o diretor de competições de clubes da entidade, Fred Nantes, viu a demanda aumentar por alguma informação sobre os torneios que organiza.
? Todo mundo acha que é a Mãe Dináh neste momento ? diz ele, em entrevista ao GLOBO, detectando ansiedade crescente desde a paralisação pelo coronavírus.
Mesmo sem previsões concretas, o dirigente desenha cenários. Em todos os oito formatados até agora, a Libertadores termina em 21 de novembro, no Maracanã, como planejado anteriormente. A Conmebol se vê com tempo suficiente para não desistir de suas competições, mas reconhece que a pandemia traz, ainda em abril, muitas dúvidas.
Qual é a posição atual da Conmebol sobre Libertadores e Eliminatórias?
Queremos dar tranquilidade aos clubes de que vamos continuar a Libertadores e vamos terminá-la. Temos tempo para isso. Só não vamos dar prazo agora porque o tema é complexo. Temos que esperar dez países funcionarem. Avaliamos diariamente a situação. Quando acabarem as restrições, no dia seguinte vamos recomeçar. Sobre as Eliminatórias, não tem nada de dois grupos de cinco seleções. Hoje, está previsto jogar em setembro, é o que a Fifa determinou neste momento.
Então, quer dizer que o nível de confiança de vocês está alto.
Claro. Precisamos de 10 datas para terminar a Libertadores. Dizer que não vai ocorrer é precipitado. Vale para a Sul-Americana, que precisa de oito datas. Mais simples ainda.
A data inicial da suspensão das competições era até 5 de maio. Vai esticar o prazo?
Colocamos 5 de maio para dar uma previsibilidade aos clubes, porque muitos queriam dar férias aos jogadores. Foi o que aconteceu, especialmente no Brasil. Agora, não faz mais sentido ficar dizendo que vai ser em junho, julho. Vai ser quando puder.
Portões fechados é um cenário admitido também nas competições continentais?
Vamos começar a Libertadores como pudermos. Se os países disserem que vai ser de portões fechados, vamos respeitar o que cada autoridade estiver dizendo. O importante é que os clubes possam viajar. Se dentro do país houver restrições, vamos começar como for possível. O que queremos é ter a garantia de implementação de protocolos determinados pelas autoridades sanitárias. Até porque isso varia de um país para o outro, dependendo do nível da pandemia. O cenário do Paraguai é diferente do Brasil.
Libertadores teria prioridade em relação à Sul-Americana?
Os torneios já seriam juntos até as quartas de final. Se for necessário, vamos seguir essa linha de ação. Os campeonatos nacionais também têm que terminar. Mas não existe razão para dar preferência à Libertadores se o número de datas da Sul-Americana é menor. Quando liberarem as viagens, não tem essa de uma dar mais trabalho que a outra. É fazer o que já estava programado.
A Libertadores gerou US$ 300 milhões para a Conmebol ano passado. Já tem uma previsão de quanto se perderia?
Qual impacto que poderia sofrer agora? É mais para os clubes, que jogariam como mandantes. Em termos de contratos, todos estão vigentes. Não existe renegociação. A situação da Conmebol é um fluxo de caixa muito mais sólido do que no passado. Isso permite que haja adiantamento de até 60% do valor das cotas.
E quanto à final da Libertadores no Maracanã?
O plano segue completamente igual. Inclusive, não tem mudança da data da final. Em todos os cenários que temos hoje, a Libertadores terminaria em 21 de novembro. Seja começando em junho, julho ou agosto. Dá para terminar na data estabelecida. Qualquer coisa, neste momento, é precipitado porque tem muito tempo até lá. Com a Sul-Americana, vale o mesmo para Córdoba, na Argentina.
Já recebeu sinalização da Fifa sobre Mundial de Clubes?
Temos um grupo de trabalho. As seis confederações estão representadas. Hoje, a data aprovada para o Mundial é 9 de dezembro. Está vigente. A situação de todas as confederações continuará sendo avaliada. O clube sul-americano iniciaria 13 ou 14 de dezembro. Temos que tomar cuidado é para não instalar a teoria do caos. Temos tempo ainda. A curva da pandemia pode responder de forma diferente para pior e para melhor. Temos que ter muita calma.
Quais cenários de calendário já existem na Conmebol?
Tenho oito cenários prontos, neste momento. Posso até criar mais. Mas em todos há conclusão da Libertadores e da Sul-Americana.
Qual é o principal desafio de quem organiza competições envolvendo dez países?
Nesse momento, a questão de deslocamento mesmo. Garantir que os clubes possam viajar sem fronteiras fechadas. As adaptações locais, fazer de portão fechado ou não, são mais fáceis de gerenciar. Mas garantir que os times possam chegar aos locais dos jogos é o maior desafio.
Há algum tipo de intercâmbio com a Uefa, já que ambas se aproximaram recentemente?
Eles estavam nas quartas de final da Champions. Temos um relacionamento excelente. Nos falamos toda semana. A situação na Uefa é mais complicada porque eles teriam que acabar até junho por causa do calendário deles. Há a questão dos contratos dos jogadores. Nesse sentido, nosso calendário ser de janeiro a dezembro nos dá uma posição um pouco mais confortável no momento.
No Brasil, os clubes querem terminar, nessa ordem, estaduais e Brasileirão, com 38 rodadas. Como “defender? o espaço da Libertadores?
Cada um pode fazer sua prioridade da forma que bem entender. Para a Conmebol, é terminar Libertadores e Sul-Americana. Se as pessoas têm outras prioridades ou enxergam de forma diferente, o que eu posso fazer? Cada um vai defender a sua organização. É absolutamente normal. O que é mais importante para você: estaduais ou Brasileiro?
Depende se eu sou um clube pequeno ou grande.
Em termos de hierarquia de competição…
Pela hierarquia, dá para assegurar que vai prevalecer a vontade da Conmebol?
Não é vontade da Conmebol. Eu não quero entrar nessa disputa porque não existe. Cada organização quer fazer o seu torneio e a Conmebol vai terminar a Libertadores e a Sul-Americana. Se tiver que entrar dezembro, início de janeiro, vamos fazer. Só que não vejo necessidade disso neste momento.
Qual sua leitura sobre o sentimento dos dirigentes com os quais você conversa?
É um clima de apreensão pela incerteza. Ninguém pode prever quando vai voltar. Tenho a certeza e a segurança que vamos terminar. Estamos atentos à situação e aos clubes, por toda indústria do futebol. É o nosso ponto de atenção. Queremos ajudar a indústria. Sobre terminar, estamos seguros que vamos conseguir.
A Conmebol conversa com os governos para tratar da questão de saúde?
Isso não compete a nós. É com cada país. Falamos com o poder público para saber a situação de cada,, ms não para determinar protocolo. Isso é com cada Ministério da Saúde. Quem é a Conmebol para interferir nisso?
O futebol sul-americano tem um jeito específico de torcer, um clima ímpar, e a Conmebol tenta valorizar isso. Acha que esse calor vai se manter quando as competições forem retomadas?
Eu acredito que quando voltar, podendo ter público, vai estar mais forte do que nunca. Todo mundo está esperando que volte o futebol.
Fonte: O Globo