O futebol japonês completa dois meses sem jogos no próximo dia 25 de abril. Aperspectiva é voltar apenas em junho, caso não haja um novo adiamento em função da pandemia do novo coronavírus. O país asiático enfrentou a primeira onda de casos em fevereiro, quando instalou de imediato medidas preventivas nos clubes, sem que fosse necessário interromper os treinamentos. Mas elas não foram suficientes para evitar que o crescimento da contaminação obrigasse o esporte a parar de uma vez, incluindo o adiamento dos Jogos Olímpicos para 2021.
Mesmo em um país culturalmente acostumado a situações de isolamento, uma nova onda de Covid-19 fez os clubes paralisarem as atividades em abril e darem um mês de férias para os jogadores. O retorno está previsto para maio.
? Pela cultura deles, já vivem uma espécie de isolamento. Por isso quiseram manter ? opina Matheus Savio, brasilero que defende o Kashiwa Reysol.
Para ele, a prevenção explica o país ter apenas dezenas de mortes até agora.
? A cultura deles aqui ajudou muito nesse momento de prevenção, principalmente na questão da máscara, de pensar no outro. Até porque são mais frios que no Brasil, sem abraço, beijo.
A manutenção das atividades mesmo com os torneios interrompidos depois de apenas duas partidas, da J-League inclusive, se revelou ineficaz. Nesse período, os jogadores têm sido submetidos a treinamentos em suas casas, tal qual em alguns clubes do Brasil. E com protocolos mais rigorosos.
Sobretudo depois de ontem, quando o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, declarou estado de emergência nacional. Estudos também apontam o risco de mais mortes caso a população não fique em casa.
Matheus Sávio vive com a mulher em Kashiwa desde o ano passado, quando foi vendido pelo Flamengo. Aos 23 anos, já se inseriu na cultura local. E se preveniu com compras para mais tempo em casa. Mesmo assim, ainda veste a máscara e pega a bicicleta para ir a uma pequena feira.
? Há mercados menores, vamos uma vez por semana. Mas desde ano passado quando estava gripado saía de mascara, usava no ônibus, para não contaminar ninguém ? explica o brasileiro.
O jovem tem no clube a companhia dos conterrâneos Richardison, meio-campo, Junior Santos, atacante, e Cristiano, centroavante que vive há mais tempo no país, oito anos. Os jogadores passaram a seguir o protocolo de treinos do preparador físico Diogo Linhares, que também é brasileiro e trabalhou no Flamengo recentemente. Ele explica que o clube japonês implementou restrições ainda durante os treinos.
? Quando estávamos treinando sem campeonato, media a temperatura corporal antes dos treinos, e todos ficavam em acompanhamento, caso tivessem tosse. Também havia cuidados com academia, vestiário, para evitar aglomeração ? conta Linhares.
Depois da segunda onda, com os atletas reclusos, a orientação dos dirigentes japoneses foi mais rígida, e se assemelha ao que os clubes brasileiros tentam implantar em meio ao isolamento social.
? A orientação foi ficar em casa, evitar pegar táxi e transporte público. Se pedir comida em casa, assim que pegar a caixa lavar a mão. E evitar comprar coisas de fora. Ir no mercado fazer compra grande, estocar coisas em casa. Evitar o contato nessas semanas, mesmo ? relata Matheus Sávio, deixando claro que a situação é inédita até para quem está mais acostumado.
Fonte: O Globo