Quando Vicky Wright abandonou o centro cirúrgico para seguir seu sonho olímpico, há pouco menos de um ano, ela não imaginava que voltaria a trabalhar para o Serviço Nacional de Saúde (NHS), espécie de SUS inglês, tão rapidamente. Mas ao acompanhar a escalada da crise do coronavírus, não hesitou.
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Há duas semanas, ela ainda era uma atleta em tempo integral se preparando para competir no Campeonato Mundial de Curling, no Canadá. Sua expectativa era a de ficar mais perto dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim-2022.
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Mas esse sonho foi rapidamente substituído por um senso de responsabilidade. Agora, a única coisa na sua cabeça são os turnos como enfermeira no Forth Valley Hospital, em Larbert, na Escócia. Ela sabe que tem um adversário mais importante a ser derrotado no momento.
? O esporte não é uma questão de vida ou morte. Já estive em situações assim, e elas são assustadoras. Trabalhar no NHS mantém os meus pés no chão e me dá perspectiva de vida. No curling, você pode ter um dia ruim nos treinos. Mas ninguém vai morrer se eu errar uma tacada ? explicou:
? Não posso controlar nada em relação ao curling agora. Eu sabia que deveria voltar ao trabalho. Tudo o que posso fazer é torcer pelo melhor e me manter focada em como, no papel de enfermeira, posso cuidar de pessoas que estão vulneráveis.
Wright é uma de muitos atletas britânicos cujos planos foram afetados pela pandemia do coronavírus, que levou a cancelamentos e adiamentos ao redor do mundo ? entre eles, a transferência dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio-2020 para 2021.
Decepcionada com o fim abrupto da temporada do curling no Canadá, Wright se solidariza com atletas afetados por medidas semelhantes. Mas reforça que foi a melhor decisão a ser tomada:
? Ficamos irritados por não podermos competir no mundial. Esses torneios e as olimpíadas são o auge dos nossos esportes, e queremos chegar a eles no nosso melhor momento. Mas a nossa saúde é muito mais importante. Nenhuma medalha ou recorde valeria a pena se algo desastroso acontecesse. Felizmente, temos mais dois anos (até Pequim-2022), então espero que estejamos bem. Mas não sabemos exatamente com o que estamos lidando. Precisamos proteger nossa saúde aqui e agora. O esporte vem depois.
Quando a pandemia for superada, Wright espera voltar aos treinos em período integral com o objetivo de conquistar uma medalha nos Jogos de Pequim. Mas, para conseguir isso, ela precisará ficar no próprio pé. Afinal, ninguém sabe ainda quando o calendário esportivo voltará ao normal.
Acordar de manhã para treinar no jardim é a última coisa que muitos fariam após uma longa noite de plantão no hospital. Mas Wright sabe que o sacrifício é necessário caso queira realizar todos os seus sonhos, tanto no gelo quanto fora dele:
? É uma posição única, um privilégio. Eu posso alcançar meus sonhos esportivos e manter a minha carreira como enfermeira viva, o que eu adoro.
Fonte: O Globo