O levantamento mostrou ainda a falta de confiança no que se refere a ações governamentais para salvar os moradores das periferias: 90% dos entrevistados disseram sentir que o governo não está realizando ações específicas eficazes para ajudar os mais pobres nesse momento. A pesquisa ouviu 525 pessoas de várias partes do Brasil, com 40% de concentração em São Paulo, entre segunda-feira (25) e quinta-feira (28).
Segundo o chefe de criação da agência Reponsa, Samuel Gomes, que vive na Vila Guarani, na zona sul de São Paulo, a preocupação em conter a doença é explicada pela estrutura da vida em comunidades de renda mais baixa (todos os entrevistados pertencem às classes C, D e E). “Estamos sempre em contato com os nossos, pois todo mundo vive muito junto na periferia – avós, pais, filhos e tios. E sabemos, por enfrentarmos a realidade do SUS e do transporte público, que a transmissão da doença vai afetar principalmente a gente.”
Renda e emprego
O temor da falta de dinheiro e do desemprego também aparece com força no levantamento, até porque as periferias concentram trabalhadores autônomos e convivem com um índice de desemprego e subemprego muito maior do que nas classes A e B. Segundo a pesquisa, apenas 52% das pessoas estão trabalhando normalmente ou em home office. O restante das pessoas se divide entre pessoas que já não trabalhavam (30%), empregados que deixaram de receber salário (11%) e demitidos por causa da crise (4%).
Para Gomes, as ações para distribuição de renda são urgentes, pois a falta de dinheiro é um problema corriqueiro entre as famílias de baixa renda – e esse fator pode empurrá-las a comportamentos de risco. “Meu pai vive da coleta de fio de cobre e de alumínio. Quem o ajuda atualmente sou eu, até porque minha mãe é cardíaca e tem mais de 60 anos e faz parte do grupo de risco”, conta. “Na periferia, é assim: um ajuda o outro, desde sempre. No meu quintal, moram hoje 10 pessoas – mas já fomos 12.”
Diante dessa realidade de desencanto com a ajuda oficial, Gomes – conhecido no mercado publicitário como Samuka – diz que as empresas podem ocupar o vácuo de assistência deixado pelo governo. A pesquisa mostrou que 81% dos entrevistados acreditam que as marcas podem fazer alguma coisa para ajudá-los nesse período de confinamento, seja com doações de alimentos e álcool gel ou com informações e entretenimento. “Cada um pode olhar para seu negócio e tomar atitudes. Não é só de cesta básica que a periferia precisa”, diz o publicitário.
Internet
O acesso à internet tem se mostrado vital também nas comunidades nesse momento de enfrentamento do coronavírus, pois a web se tornou, junto à televisão, o principal meio de informação das pessoas. No entanto, a pesquisa mostra que a conexão nem sempre é boa. Entre os entrevistados, 65% disseram ter conexão Wi-Fi suficiente, 27% afirmaram ter banda insuficiente e 7% disseram não ter internet.
No que se refere ao entretenimento e à informação, 81% disseram que o principal passatempo durante os tempos de confinamento é com o acesso de redes sociais – com WhatsApp e Instagram como ferramentas mais usadas -, 61% afirmaram assistir a filmes e séries e 61% assinalaram ler notícias pela web.
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Fonte: Terra Saúde