Herói do Estadual de 1989, Maurício foi um dos primeiros a chegar à sede de General Severiano para o velório de Valdir Espinosa. O autor do gol que garantiu a conquista para o Botafogo e acabou com o jejum de 21 anos sem títulos se emocionou ao lembrar da importância do ex-treinador.

– Eu tive o prazer e a satisfação de ter um amigo, um professor e um psicólogo. E de fazer parte de um grupo vencedor que foi o de 1989, no qual ele foi fundamental. Foi psicólogo, conversava com os atletas. Passava seu “know-how” de campeão. Ele iniciou minha carreira. Eu tinha 25 anos e estava começando. Vim do Bonsucesso, um time pequeno. Passei pelo America, qur foi só uma projeção. E o Botafogo poderia me consagrar, por ser um time grande e o do meu coração. Ele me apresentou o projeto dele de uma forma diferenciada, falando da importância de cada um dentro dos posicionamentos. O conceito dele era unico: ser vencedor e tirar o Botafogo do jejum. Acho que ele alcançou o objetivo trazendo pra gente essa felicidade muito grande que foi o titulo de 1989 – disse o ex-atacante durante o velório.

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Foi com o gol marcado na final sobre o Flamengo que Maurício se consagrou como ídolo do Botafogo. Foi ao recordar da colaboração do então treinador neste feito que ele precisou conter as lágrimas. Com febre no dia da decisão, ele só entrou em campo porque Espinosa o incentivou e previu que ele faria história naquele dia.

– Ele foi fundamental para a minha vida. Eu estava com 39 graus de febre e não podia jogar. Os médicos já tinham deferido que era melhor eu não jogar. Chamei os atletas e eles falaram: “Nós vamos correr por você”. Mas eu precisava de uma opinião de quem estava dentro, do dono do projeto. E ele falou: “Maurício, creia que vai dar tudo certo. Vamos superar. E você faz parte, tem que ir para o jogo”. Só que no segundo tempo eu não queria mais, porque estava prejudicando. Saí chorando (no intervalo), desci as escadas. Ele me abraçou mais uma vez e falou… – conta Maurício, que precisa parar o relato devido à emoção, para então prosseguir:

– “Sonhei que você faria o gol do título”. E isso ocorreu. Eu voltei e, após 12 minutos, consegui fazer o gol. Mais uma vez a palavra dele superou todas as expectativas e nós conseguimos ser campeões em cima de um grande clube que era o Flamengo.

Espinosa morreu após complicações pós-operatórias no intestino, na manhã desta quinta-feira, deixando para trás um currículo de treinador cujo principal título é o Mundial de Clubes de 1983, pelo Grêmio. Desde dezembro, ele exercia a função de gerente técnico do Botafogo, no reencontro com o clube pelo qual foi campeão Carioca de 1989 como técnico.

Além de Maurício, outros integrantes da geração de 1989 deram seu adeus ao ex-treinador: Maurício Gottardo e Mauro Galvão. Os dirigentes do Botafogo, Ricardo Rotemberg e Carlos Eduardo Pereira também estão presentes. O técnico Alberto Valentim, demitido do Alvinegro há menos de um mês.

O Grêmio, outro clube onde Espinosa virou ídolo, e o Fluminense enviaram coroas de flores para homenageá-lo. Assim como fizeram a CBF e o ex-zagueiro Juan. O velório na sede de General Severiano está previsto para terminar às 22h.

Corpo de Valdir Espinosa chega à sede de General Severiano com bandeiras de Botafogo e Grêmio sobre o caixão Foto: Rafael Oliveira
Corpo de Valdir Espinosa chega à sede de General Severiano com bandeiras de Botafogo e Grêmio sobre o caixão Foto: Rafael Oliveira