Desconhecido da torcida alvinegra e do próprio comitê gestor do Botafogo até o início deste ano, um ex-jogador de 40 anos se tornou figura central das movimentações mais inesperadas do mercado da bola em 2020. Trata-se do agente paulista Marcos Leite, ex-atleta com passagem apagada pelos gramados, que se transformou no elo entre Botafogo e medalhões do quilate de Keisuke Honda e Yaya Touré, que ainda negocia sua vinda para o futebol brasileiro.

Marcos ? que não tem parentesco com Carlos Leite, empresário de renome no Brasil ? deixou os gramados há 10 anos. Uma decisão tranquila, segundo ele, interrompendo uma carreira que começou na base de grandes clubes de São Paulo, mas não decolou. Ele foi contemporâneo de Júlio Baptista, do lateral Juan e de Diego Cavalieri ? a quem ajudaria a conseguir um contrato no Crystal Palace, da Inglaterra, em 2018. No profissional, passou por times de Santa Catarina, pelo modesto NK Medjimurje (Croácia), mas não bilhou como os ex-companheiros.

Sem sucesso em campo, Marcos Leite viu na intermediação de transferências um caminho atraente. O clique que o levou à estreia no mercado, com o atacante Jean Patrick, foi em um jogo entre Grêmio Osasco e Flamengo, pela Copa São Paulo de 2015. O rubro-negro venceu apertado, por 1 a 0. Impressionado com a rapidez e a habilidade do atacante, Marcos o procurou no dia seguinte e, em seguida, conseguiu negociá-lo ao São Paulo. Começava ali, uma carreira nos bastidores do futebol.

Marcos Leite no Nilton Santos Foto: Arquivo pessoal
Marcos Leite no Nilton Santos Foto: Arquivo pessoal

 

Operação Honda

Marcos Leite é sócio da RM2 Esportes, com sede em São Paulo. Para atrair medalhões, ele age nas duas pontas: mapeia o mercado brasileiro, enxerga o que um clube pode oferecer, e leva a ideia para os representantes do jogador no exterior. Foi o que ele fez ao levar o nome do Botafogo ao irmão de Keisuke Honda.

Embora não tivesse relação com o alvinegro antes de 2020, ele já vinha se aproximando do japonês desde 2016. Marcos recebeu do então sócio, Ricardo Mendes, o contato de uma pessoa que trabalhava na empresa que agenciava o jogador. Foi uma aproximação gradativa que foi se tornando frequente. A sociedade com Mendes e Luciano Martins era na LM03 Sports & Marketing, que gerenciava carreira e fazia intermediação de transferências ? em 2017, tentou levar Luan (ex-Grêmio) para o Valencia, sem sucesso.

Depois de dois anos morando nos Estados Unidos, Leite voltou ao Brasil no ano passado e fez nova sociedade, desta vez com o ex-volante Rodrigo Pontes (ex-Corinthians e Náutico). Em janeiro, ele fez o primeiro contato com Ricardo Rotenberg, um dos integrantes do comitê gestor do futebol do Botafogo, que seria fundamental para a chegada do japonês.

? O Botafogo é um time gigante, de torcida apaixonada. A meu ver, estava carente de ídolo. Então, pesquisando o mercado brasileiro, identifiquei o Botafogo como uma grande possibilidade para trazer o Honda. De início, parecia loucura, algo fora da realidade do Brasil em termos financeiros. Mas fui explicando ao Botafogo que era possível e eles abraçaram a causa ? afirmou Leite.

Honda queria um clube que o permitisse atuar para estar em forma nos Jogos Olímpicos de Tóquio. A meta é se despedir da seleção de seu país como anfitrião do torneio de futebol. O Botafogo pareceu uma boa oportunidade, embora a história toda tivesse traços surrealistas. Mas houve um momento específico que o empresário sentiu que a transferência se concretizaria.

? Keisuke me disse que os torcedores botafoguenses estavam invadindo as redes sociais dele. Isso o deixou impressionado. A partir daí, as coisas começaram a andar mais rapidamente. O Botafogo queria muito a vinda dele. Nesse momento, eu senti que iria dar certo ? conta o empresário, que também passou a desfrutar de popularidade entre os torcedores do Botafogo nas redes sociais.

Em busca de Touré

No AeroHonda e na apresentação no Nilton Santos, a concretização do projeto. Mas não parou por aí. Marcos Leite trouxe outro nome de peso à pauta do Botafogo: o marfinense Yaya Touré, de 36 anos, com passagens por Barcelona e Manchester City. A aproximação ao staff do jogador é bem mais recente em relação a Honda.

? Yaya é uma outra atuação, trabalha com outra pessoa que por sinal é extremamente profissional. Cara muito bacana.

Na semana passada, Marcos Leite postou um emoji de um avião, indicando que estaria viajando. Paris foi o destino. Na Cidade Luz, com atuação de Carlos Augusto Montenegro, outro membro do comitê gestor do futebol alvinegro, surgiram mais capítulos de uma negociação que se mostra muito mais complicada que a de Honda. Mas, sem precisar dormir de madrugada, há otimismo  para que o desfecho seja o mesmo:

? O foco é trazer grandes nomes para o futebol brasileiro.