Contratado como uma espécie de consultor musical da NFL, o produtor e rapper Jay-Z, marido de Beyoncé, será tão avaliado quanto a dupla Shakira e Jennifer Lopez neste show do intervalo do Super Bowl. Por mais que as artistas sejam o carro-chefe, a ideia de que um magnata do showbiz está por trás da escalação e da produção faz com que se exija o máximo de entretenimento dos breves minutos musicais apresentados.

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A escolha de Jay-Z foi uma cartada segura da Liga Nacional de Futebol Americano (NFL). Questionada por movimentos considerados racistas, como a aposentadoria forçada do quarterback rebelde Colin Kaepernick, a liga pega emprestado do rapper toda a credibilidade dele junto à comunidade negra. Jay-Z, por sua vez, decidiu levar a Miami duas estrelas da latinidad – uma tacada de mestre, já que Miami é a capital latina dos EUA.

Antes do espetáculo, a imprensa monitorou o comportamento de Jay-Z na execução do hino americano. Nem ele nem sua mulher, Beyoncé, se levantaram para ouvir o Star-Spangled Banner, o que não deixará de ser entendido como um sinal de cumplicidade com Colin Kaepernick, que se ajoelhava quando era jogador, para protestar contra a violência policial sofrida pelos negros americanos.

A sensualidade deu a tônica do show. Colombiana de ascendência árabe e bem mais rock?n?roll que Jennifer, Shakira abriu o show com músicos e dançarinos num vermelho sanguíneo uníssono. Com ventre e coxas à mostra, empunhou guitarra antes da citação do riff de Kashmir (Led Zeppelin). Cantou salsa e paso doble (“Hips don?t lie?). O incêndio se instalava na Hard Rock Arena de Miami. Seria exagero citar as músicas aqui: a lógica do setlist foi a de um frenético medley – ou pout-pourri, como se dizia antigamente. Funcionou, já dando a impressão de que o fiasco do Maroon 5 em 2019 era passado.

Um pouco mais coberta, chegou Jennifer Lopez, ordenando um figurino mais sadomasô, em que o couro preto, tachinhas e zíperes abundava. Rapidamente, a curvilínea cantora de ascendência porto-riquenha se mostrou num maiô prateado cercado de transparências. No seu momento, até a lambada do Kaoma mereceu citação, antes que um coral vestido de branco tomasse o palco, acompanhado por Shakira na bateria, desembocando no refrão de Born in the USA, the Bruce Springsteen. Tudo muito rápido, tudo impagável, num show que durou 13 minutos e custou US$ 13 milhões.

Jay-Z sabe para que público fala. O show é todo segmentado, sem nenhuma música durando mais que um minuto, porque seu público Millennial precisa receber impulsos novos a fim de não trocar de canal, ou de tela. Parte do trabalho da Roc Nation é garantir uma renovação do público ligado na NFL. Entrecortar os números se torna essencial, mesmo que isso prejudique o discurso musical. Basta um refrão. Se é verdade que isso faz com que a atração tenha bom desempenho no consumo fast-food, a sensação é de que tudo é tão curvado a essa nova sensibilidade aqui-agora da plateia que não há espaço para o momento inesquecível, aquele que se constrói dentro do espaço de uma canção, algo que o Super Bowl já teve em outros intervalos.

Miami ficou de joelhos, aplaudiu e cantou, embora tudo tenha sido veloz e telegráfico demais para ficar na memória. Jay-Z estreou com pujança nos bastidores, mas não conseguiu cristalizar uma recordação nas mentes. Talvez em 2021.