Um paralelo: se o presidente Jair Bolsonaro tem Paulo Guedes, Alexandre Campello tinha Adriano Mendes. O vice-presidente de controladoria, que confirmou na segunda-feira sua saída da gestão, era uma espécie de guru do mandatário do Vasco. Desde que Campello assumiu o clube, foi chamado para ajudar no projeto de reestruturação financeira. Aceitou prontamente o desafio.

Com a coleção de opositores que Alexandre Campello fez na política vascaína desde que rompeu com Julio Brant para ser eleito presidente administrativo, quem se aliou ao dirigente sofreu com os respingos. Mendes era alvo de ataques da oposição, ironizado pelas planilhas que apresentava com números do clube.

Ainda assim, transitou razoavelmente bem na política sempre turbulenta de São Januário, servindo como intermediário até o presidente menos popular em questões fora de sua alçada, como a polêmica lista de sócios que opositores tentam ter acesso. Quando Campello rompeu também com a “Identidade Vasco”, em maio de 2018, foi oficializado na diretoria como vice-presidente de controladoria. O guru estava devidamente empossado.

Campello, depois de se afastar do grupo de Roberto Monteiro, acumulou o cargo de vice-presidente de futebol, mas em contrapartida criou um comitê gestor da pasta, formado por Bruno Maia (vice de marketing), Paulo Ganime (vice de gestão estratégica), Rogério Peres (vice-jurídico) e João Marcos Amorim (vice de finanças). Adriano Mendes foi deixado fora, para priorizar as questões financeiras. Depois de impasses no comitê, Campello optou por dissolvê-lo. Adriano Mendes ficou do lado do presidente.

A parceria seguiu em alta, com a ascensão do nome de Adriano Mendes na opinião pública. Apesar das dificuldades no fluxo de caixa, o clube apresentou resultados contábeis positivos no primeiro ano de gestão, sinal de que o projeto de reestruturação financeira estava em andamento. Cresceu a ideia de que o futebol, encabeçado por Campello, não dava resultados, mas pelo menos as finanças do vice de controladoria caminhava. João Marcos Amorim, vice de finanças, também tinha sua colaboração no desempenho nos números, mas com o estilo recluso dele, deixava os holofotes todos para Adriano.

Em 2019, o alvo de Adriano Mendes virou o marketing e os atritos com Bruno Maia, vice-presidente da pasta, começaram a se repetir.Tratava-se de dois dirigentes aliados de longa data de Campello, remanescentes da primeira composição da diretoria. O ortopedista ficou do lado de Mendes nas intervenções que fez na pasta. Desgastado e com proposta profissional nova, Maia pediu para sair. Não por coincidência, tem sido frequente, tanto por parte de Campello, quanto de Mendes, apontar o marketing como um dos pontos que não funcionaram na gestão vascaína no último ano.

Saída política ou técnica?

Tanto é que Adriano Mendes assumiu as rédeas do principal patrocínio assinado na gestão Alexandre Campello: o Banco BMG. Internamente, é dito que os diretores da empresa só tratam com Mendes. É ele quem deve confirmar a entrada da receita para pagar parte dos salários atrasados que pesa sobre jogadores e funcionários.

Em 2020, cresceu a necessidade de Alexandre Campello obter resultados em campo. Interna e externamente, ele repete: não será um presidente que cairá com o time para a Série B, diferentemente de seus antecessores, Roberto Dinamite e Eurico Miranda, ambos com essa mancha no currículo. Além disso, o desejo de se reeleger é grande. Ao mesmo tempo, cresceu no grupo encabeçado por Adriano Mendes, o “Desenvolve Vasco”, “a vontade de participar do processo eleitoral neste ano de 2020”, como o próprio grupo afirmou em nota.

Mendes, assim como João Marcos Amorim, vice-presidente de finanças que também se afastou, aponta a discordância nos rumos financeiros do Vasco em 2020 como a razão do rompimento com Alexandre Campello. Ele descarta motivações políticas e reclama dos gastos com o futebol, o que inclui a contratação de Abel Braga e a de Germán Cano. O vídeo gravado por Alexandre Campello, publicado na quinta-feira, deixou Adriano Mendes irritado. Cogitou a resposta logo no dia seguinte, o que não foi à frente. Veio a despedida na segunda-feira, polida. As feridas ficaram abertas nas entrelinhas.