FORTALEZA – Romário não gostava de treinar quando era profissional. Portanto, não seria nos preparativos de um jogo da seleção de masters que o Baixinho iria aparecer. Mas ele cumpriu a promessa de estar em campo e participar do evento realizado pela CBF nesta quinta-feira, em Fortaleza, que reuniu os campeões do mundo de 1994 contra uma seleção italiana da mesma época. Foi um sinal de trégua na relação entre o senador e a entidade.
Conhecido por não ter papas na língua, Romário fez da CBF um alvo na maior parte do tempo como parlamentar em Brasília. Desde os tempos de deputado, o hoje senador (Podemos) não costuma ecnomizar nas críticas à entidade, principalmente no período em que os escândalos de corrupção estouraram no futebol sul-americano, envolvendo os ex-presidentes Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero. Até livro expondo os trabalhos da CPI do Futebol o Baixinho publicou – ele foi o relator.
Mas há um clima de calmaria aparente. Uma aproximação de ambas as partes, contrastando com a ausência em um encontro feito pela CBF com a turma do tetra no ano passado, na Granja Comary.
– Ano passado não era jogo. Hoje é jogo. Estar aqui não tem relação de senador e CBF. Aqui está o ex-jogador de futebol, campeão do mundo, que fez história na seleção. Está aqui para dar oportunidade dos que não viram verem, mas não o Romário de 25 anos atrás. Mas essa geração vitoriosa. É importante fazer esse jogo. Estou muito amarradão – disse Romário.
A presença do Baixinho vem a calhar para que reverbere ainda mais o projeto da seleção de masters. Romário teve uma reunião com o técnico Carlos Alberto Parreira e com o presidente da CBF, Rogério Caboclo. O dirigente diz não ter pedido a Romário que, em troca, o discurso contra a entidade fique mais brando.
? Romário muda sempre que está em campo. Ele é o cara de um momento histórico da seleção. Não existe nenhuma troca. Ele sabe disso. Nunca pediria favor para ele e nem para ninguém ? afirmou Caboclo.
A influência dos colegas
A parte boleira do projeto tem a capitania do ex-zagueiro Ricardo Rocha. É dele a função de ser o elo entre os jogadores e a CBF. No processo de convencimento de Romário, foi relevante.
?Disse que, independentemente da questão da CBF, aqui tem um grupo que ganhou a Copa do Mundo. E o grupo gosta dele. Por que não ir? Ele repensou. Aqui não é questão política. A gente fica sentido quando ele não vem. Aqui viemos para jogar. Não é questão de ser aliado. Eu sou amigo dos caras da CBF. Talvez outros não sejam. Isso faz parte. Ninguém é amigo dos mesmos amigos ? disse Ricardo Rocha ao GLOBO.
O jogo em solo cearense foi o primeiro de uma esperada série de eventos. A CBF investiu cerca de R$ 3 milhões no evento, incluindo cachê para ambas as seleções.
A iniciativa se propõe a explorar o viés da paixão ao reunir ex-astros da seleção, tendo também um retorno comercial e financeiro no futuro. No primeiro jogo, a conta foi toda da CBF, mas o plano da entidade é que eventos desse gênero aconteçam sob demanda, com apoio de contratantes e eventuais patrocinadores.
Não há uma seleção fixa. Os eventos das seleções de lendas podem contar com diferentes gerações, mescladas ou não. A primeira partida já aconteceria independentemente da presença de Romário. Mas quando o convite ao Baixinho foi aceito, o material de divulgação foi mudado. O capitão Dunga, por outro lado, chegou a estar confirmado, mas não compareceu, assim como Müller, Raí e Leonardo.
O jogo não envolveu a Federação Italiana (FIGC), diante da alegação de falta de tempo para participar do processo. Quem fez a ponte com os italianos foi ex-lateral-esquerdo Serginho, que atuou no Milan e conhece jogadores como Albertini, Baresi, Costacurta e Massaro.
O efeito Romário
Acordos comerciais não foram afetados pela presença de Romário, assim como as negociações envolvendo os direitos de transmissão. Mas o Baixinho gerou atratividade maior entre os torcedores, por mais que no Rio, seu berço eleitoral, a popularidade não tenha sido suficiente para elegê-lo governador. No hotel em que os jogadores de Brasil e Itália ficaram, a chegada de Romário foi a que mais causou expectativa.
? Foi Romário que me fez gostar de futebol. Vi aquela seleção quase não se classificar para a Copa. Mas ao ver Romário fazendo dois gols contra o Uruguai, no Maracanã, tive a certeza que o Brasil iria ganhar a Copa. Eu estava acompanhando as informações do evento na esperança que ele viesse. Eu já viria mesmo sem ele, porque aquele ano de 1994 foi mágico. Agora que ele veio, tirei foto, peguei autógrafo, deu certo ? disse o técnico de informática Alexandre Magno, de 40 anos, que fez plantão e saiu satisfeito.
*O repórter viaja a convite da CBF
Fonte: O Globo